Que bom ela ter vivido até aqui! Aos 97 anos, a vice-presidente das Avós da Praça de Maio, Rosa Roisinblit, escutou na quinta-feira, depois de 38 anos, a condenação a 25 e 12 anos de prisão dos ex-militares acusados pelo desaparecimento de sua filha grávida e seu genro durante a cruenta ditadura militar argentina que se estendeu entre 1976 e 1983.
O ex-comandante da Força Aérea Omar Graffigna, 90 anos, e o comodoro aposentado Luis Trillo, 75 anos, foram condenados a 25 anos de prisão, enquanto o agente de inteligência militar Francisco Gómez, 70 anos, recebeu uma pena de 12 anos de prisão, segundo a sentença.
- Vejo que a justiça tarda, mas chega - declarou Roisinblit, que promovia uma ação contra o Estado desde 1979 e que agora comemora por poder "ter a felicidade de viver para ver isso que acabei de ver e ouvir".
A sentença condenou os militares por "privação ilegal de liberdade e tormentos agravados", mas não pelo desaparecimento forçado como pedia a ação que solicitava penas de prisão perpétua pelo sequestro ocorrido, em outubro de 1978, de José Pérez Rojo e Patricia Roisinblit, que permanecem desaparecidos.
Após ouvir a sentença, os netos de Rosa - Mariana e Guillermo Pérez Roisinblit - se abraçaram com sua avó, num gesto de intensa emoção. Aos 15 meses, Mariana presenciou o sequestro de seus pais e foi entregue aos avós paternos. Guillermo, um dos 120 netos recuperados pelas Avós da Praça de Maio, nasceu no cativeiro de sua mãe que estava grávida de oito meses ao ser sequestrada. Depois, foi um dos casos de adoções ilegítimas e ilegais. Recuperou a identidade somente em 2000, encontrado por sua irmã - que trabalhava com as Avós.
O rapaz não se conformou com a pena de seu sequestrador, Francisco Gómez.
- Não estou feliz com os 12 anos que lhe deram, não só pela magnitude do dano que cometeu, mas também porque ele tem a informação precisa, e sei pela sua boca, do que aconteceu com meus pais, do calvário que tiveram que viver e certamente onde estão seus corpos - afirmou.
As Avós ainda buscam 400 bebês roubados durante a ditadura.
- Eu vi meus dois netos me abraçarem e chorarem comigo. É um momento de muita emoção, um pouco de pranto e um pouco de satisfação. A luta continua porque ainda faltam muitos netos a serem encontrados - disse Rosa Roisinblit.
O julgamento começou em maio passado, quando Rosa pôde ver cara a cara os três acusados no banco dos réus, entre eles Omar Graffigna, integrante da segunda Junta Militar que governou a Argentina, entre 1979 e 1981.
Também viu o comodoro aposentado Luis Trillo, que esteve à frente da Riba, um organismo de espionagem da Força Aérea em Morón, periferia oeste de Buenos Aires, e Francisco Gómez, um agente de inteligência que lá atuou.
Na Riba funcionava uma prisão clandestina onde Patricia e José permaneceram em cativeiro entre outubro e novembro de 1978. De lá, Patricia foi levada para o centro clandestino da Escola de Mecânica da Armada (Esma) onde deu à luz em um porão. Após regressar ao Riba, sequestraram seu bebê.
O caso de Guillermo foi o primeiro conhecido de um bebê roubado envolvendo a Força Aérea.
Graffigna foi absolvido no histórico Julgamento das Juntas de 1985, em que o ex-ditador Jorge Videla e o ex-chefe da Marinha Emilio Massera foram condenados à prisão perpétua. Porém, em 2013, foi preso e processado pelo desaparecimento de Pérez Rojo e de Roinsinblit, quando era o chefe do Estado Maior Geral da Força Aérea.