O jornalista Carlos Redel colabora com a colunista Juliana Bublitz, titular deste espaço.

Tendo importância crucial para o desenvolvimento da sociedade, a literatura é pouquíssimo atrativa como área de atuação profissional, visto a dificuldade de rentabilizar. Porém, existiam poucos dados disponíveis para detalhar os desafios do setor e a realidade das pessoas que atuam na cadeia literária do Rio Grande do Sul.
Agora, a pesquisa Mapeando a Cena Literária, realizada pela organização sem fins lucrativos Nonada, traz detalhes sobre as principais dificuldades e, também, potencialidades do setor. O lançamento oficial do levantamento será nesta quarta-feira (23), às 10h, no Instituto Estadual do Livro (Rua André Puente, 318 - Independência), em Porto Alegre.
Para compor o estudo, foram entrevistadas mais de 450 pessoas envolvidas na escrita literária, editoras de livros, livrarias e feiras literárias. E, entre as descobertas, uma das mais impactantes é o fato de que 93% dos escritores levam a literatura como um trabalho paralelo, pois o ofício não remunera o suficiente para a manutenção financeira.
O levantamento ainda aponta outros importantes — e alarmantes — dados, como:
- 64,6% das editoras entrevistadas foram afetadas pelas enchentes de maio de 2024;
- A enchente de maio de 2024 impactou quase metade das feiras literárias do Estado;
- Existe uma baixa representatividade de escritores negros, o que reforça a necessidade de políticas de inclusão racial;
- 60% das editoras apontam a logística como um grande problema;
- 69,6% dos organizadores apontam a falta de patrocinadores como o principal desafio financeiro para a realização de feiras literárias.

A apresentação da pesquisa será feita, na quarta-feira, por Rafael Gloria, diretor-executivo do Nonada e responsável pelo estudo. Além do relatório, uma revista especial sobre literatura, com entrevistas, reportagens e artigos, será distribuída gratuitamente ao público no dia.
— Esse tipo de dado é fundamental por várias razões. Primeiro, ele dá visibilidade a precarização do trabalho literário e as desigualdades de acesso dentro da cadeia do livro. Com números concretos, é possível sair do campo das impressões e avançar para diagnósticos mais precisos, que ajudam tanto na formulação de políticas públicas quanto no planejamento de ações por parte de quem trabalha na área, sejam escritores, editoras, livrarias ou organizadores de feiras — detalha Gloria.
O projeto é uma realização da Associação Cultural Nonada Jornalismo, com financiamento do Ministério da Cultura e da Secretaria de Estado da Cultura do RS, via Lei Paulo Gustavo, e apoio institucional do Instituto Estadual do Livro, da Associação Nacional de Livrarias, da Câmara Rio-Grandense do Livro, do Clube dos Editores, da AGES e do portal Literatura RS. A pesquisa foi construída em conjunto com as entidades e especialistas da área.
O estudo aconteceu em três fases principais, envolvendo a conversa com entidades do setor, pesquisa online com questionário, levantamento presencial com questionários online, além de campo durante a Feira do Livro de Porto Alegre.