Começa na quinta-feira o julgamento final da presidente afastada Dilma Rousseff no processo de impeachment. O resultado está dado e a sessão, prevista para se estender até a terça-feira da semana que vem, é o cumprimento de mera formalidade. É possível que sejam mais de 60 votos favoráveis ao afastamento definitivo da petista entre os 81 senadores.
A presença de Dilma no Senado para se defender e a análise criteriosa das palavras a serem usadas na manifestação são parte de posições que ela quer deixar para a História. Na hora do adeus, não se trata mais de tentativa de virar votos, mas de defesa de biografia. Se falhou na política e na gestão, Dilma tentará ao menos convencer os brasileiros, e deixar essa versão para a posteridade, de que é honesta e não se beneficiou pessoalmente de nenhum esquema de corrupção elaborado pelo PT e seus aliados.
Críticas diversas podem ser feitas à petista, mas, de fato, ela não pertence ao time de corruptos e fisiologistas que fazem do poder o bilhete de entrada em mundos nababescos. O impeachment abrirá um novo período na vida nacional. Michel Temer será efetivado no cargo, terá mais de dois anos de mandato pela frente e o desafio de tirar o Brasil da crise econômica. Confirmado no poder, ele deverá fazer mudanças pontuais na equipe ministerial, fortalecer a base governista no Congresso e apostar nas reformas da Previdência e trabalhista. As concessões à iniciativa privada, praticadas nos governos de Lula e Dilma, serão fortalecidas e ampliadas.
Na oposição, não faltarão acusações de entreguismo e antigos brados como "o petróleo é nosso". Para o PT, restará o caminho da reconstrução. O todo-poderoso do passado recente está sob escombros.
A sigla terá um encontro extraordinário em novembro e, caso a direção atual mantenha o comando, é possível que haja uma debandada entre importantes quadros do partido.
O rumo, a liderança e o projeto da esquerda brasileira estão em jogo. Já o PSDB, depois de quatro derrotas consecutivas nas eleições presidenciais, anda na corda bamba: apoia Temer e as reformas, ambos impopulares, e pressiona para que o peemedebista não concorra em 2018, quando poderá ter melhorado seus índices de avaliação em caso de superação da crise. É o plano dos tucanos para retornar ao Palácio do Planalto.