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A iminente troca de governo nos Estados Unidos provoca dúvidas em relação à manutenção da retomada de laços com Cuba. Preocupa a situação sob a democrata Hillary Clinton e, muito em especial, caso o eleito seja o republicano Donald Trump. Hillary, pelo menos, é a candidata do presidente Barack Obama. Ainda assim, costuma ter um discurso mais crítico à ilha socialista.
Mas os analistas procuram acalmar quem teme um retrocesso.
Um ano depois do restabelecimento dos laços diplomáticos, EUA e Cuba continuam ligando os fios de sua relação bilateral, um processo complexo, mas acelerado e que, conforme os analistas, não tem como retroceder, não importa quem vá ocupar a Casa Branca no próximo ano. As Seções de Interesses de Cuba e EUA se tornaram oficialmente embaixadas há um ano, o que impulsionou uma série de avanços coroados com a histórica visita de Obama a Havana em março, em que chamou os cubanos a enterrar os últimos vestígios da Guerra Fria.
- Um ano depois do restabelecimento de relações diplomáticas formais, as relações entre Washington e Havana se moveram muito rápido, muito mais rápido do que o ritmo normal de mudanças diplomáticas - disse William LeoGrande, especialista em América Latina da American University, em entrevista para a agência de notícias France Presse (AFP).
Os dois países restabeleceram o correio direto, os cruzeiros americanos voltaram à ilha depois de meio século, e a partir setembro voos diretos unirão diversas cidades em ambos os lados do estreito da Flórida.
Mesmo que o embargo de Washington de 1962 ainda proíba o turismo em Cuba, as visitas de americanos duplicaram, a cadeia hoteleira Starwood inaugurou um hotel em Havana e empresas como Netflix e Airbnb já aparecem na ilha.
Cuba espera que "quem quer que seja o próximo presidente" apoie "o curso atual da política" com a ilha, declarou nesta quarta-feira (20) Josefina Vidal, responsável cubana pelo processo de reconciliação com os Estados Unidos, em uma entrevista ao jornal Granma. Vidal acrescentou que Havana espera que Obama use ao "máximo" suas funções executivas no que resta de seu mandato para "tornar irreversível" a histórica aproximação.
A inesperada aproximação com Cuba foi outra jogada audaciosa de Obama, que está em seus últimos meses como presidente dos EUA, sem mais eleições a ganhar, e frustrado com os empecilhos colocados por seus opositores no Congresso. Mas para o novo presidente que tomará o controle da Casa Branca em 20 de janeiro de 2017, o tema cubano pode ser um assunto mais sensível, com agenda legislativa própria e capital político a ser gasto de forma meticulosa.
- O ritmo de mudança pode ficar mais lento de algum modo, porque o novo presidente terá suas próprias prioridades - disse LeoGrande, co-autor de um livro sobre meio século de diplomacia encoberta entre Washington e Havana.
A aproximação com Cuba foi ressaltada na intensa campanha para a eleição presidencial de novembro, com as manchetes focadas nas incendiárias declarações do republicano Trump e os escândalos de Hillary. Wayne Smith, ex-chefe da Seção de Interesses dos EUA em Havana, está surpreso que diferente de alguns anos atrás, as autoridades cubanas já não são mais "os suspeitos habituais" dos republicanos, que realizam sua convenção para nomear Trump como seu candidato nesta semana em Cleveland, Ohio.
Todas as mudanças introduzidas foram decididas sem nenhum voto do Congresso americano e poderiam ser canceladas facilmente pelo sucessor de Obama. Mas independente de quem seja o vencedor em novembro, ninguém em Washington imagina que o novo morador da Casa Branca rompa novamente relações com Havana e retraia meio século de inimizade e desconfiança mútua.
Claramente a principal razão é econômica: o potencial do pequeno país de 11 milhões de habitantes situado a menos de 200 km da Flórida.
A ex-secretária de Estado, que se assume como herdeira de Obama, disse que o embargo "deve terminar de uma vez por todas", advogando por enfoque a favor do setor privado "para fomentar o progresso e pressionar o regime".
Para Ted Piccone, analista do Instituto Brookings, "uma presidência de Clinton manteria o rumo traçado por Obama".
"Mas talvez com um pouco mais de precaução", acrescentou.
Tratando-se de Trump, o magnata imobiliário enviou sinais contraditórios: acredita que "a abertura com Cuba está boa" ainda que tenha opinado ser possível obter um "acordo melhor".
Trump tentaria "fixar maiores condições para a aproximação", disse Piccone.
Mas, para Smith, o imprevisível milionário, que zombou da viagem de Obama a Havana e prioriza a segurança em sua campanha, poderia também tentar ridicularizar os democratas, acusando-os de ter "política suave" com a ilha.
Certamente, os dois países ainda devem resolver várias polêmicas.
Além do fim do embargo, Cuba exige a devolução do território de Guantánamo, ocupado pela base naval americana desde 1903, e devem esclarecer os milhões de dólares em indenizações pela nacionalização de empresas americanas no país comunista em 1960.
Segundo LeoGrande, o embargo será o "maior desafio" do próximo presidente em sua política com Cuba. Ele necessitaria armar uma "ampla coalizão" de democratas e republicanos para os negócios, para finalmente revogá-lo.
Algumas medidas de Obama flexibilizaram as regulações, mas segundo Piccone, um levantamento absoluto do embargo surge como "improvável se não ocorrerem mais mudanças em Cuba".
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Cuba espera que Obama use ao máximo suas faculdades executivas no tempo que resta de seu mandato para tornar irreversíveis a histórica aproximação entre os dois países. Em uma entrevista publicada nesta quarta-feira pelo jornal Granma, Josefina Vidal, dirigente cubana que conduz o processo de reconciliação política com os EUA, fez um novo apelo a Obama para que alivie as restrições do do embargo vigente desde 1962, ao completar um ano do restabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países.
Vidal enfatizou que Obama "pode fazer muito mais por tornar irreversível o processo visando o futuro", em alusão a seu sucessor na Casa Branca, que será eleito em novembro. A esse respeito, reiterou que Cuba espera que, "seja quem for o próximo presidente, apoie o atual curso da política em relação à ilha".