Argumentos políticos procuram transitar em nome de interesses coletivos. Como regra, pelo menos, não se sustenta uma posição no espaço público em nome dos próprios interesses. O processo de impeachment da presidente, por exemplo, tem sido classificado pelo PT como um golpe. Tal posição não seria, então, simples defesa do poder, mas um compromisso com garantias. Aceita a premissa de que não houve crime de responsabilidade, o afastamento de Dilma atentaria contra a democracia. O argumento, entretanto, tem um custo que seus defensores não estão dispostos a pagar. Vejamos: na última quinta-feira, o STF suspendeu o mandato do deputado Eduardo Cunha, confirmando decisão liminar por unanimidade. A presidente Dilma saudou a decisão, afirmando "antes tarde do que nunca". Como Eduardo Cunha é um símbolo do que há de mais repugnante na política, a decisão do Supremo foi saudada por quase todo mundo e tivemos aquele conforto que costuma derivar da sensação de justiça (eu também, devo confessar). Muito bem, o problema é que Eduardo Cunha também foi eleito e, apesar da extraordinária coleção de maldades que presumidamente já cometeu, ele não foi, ainda, declarado culpado por uma delas sequer. Afastá-lo da presidência da Câmara pelos argumentos propostos pela Rede Sustentabilidade, por exemplo, seria uma medida amplamente amparada pela legislação, mas suspender seu mandato não seria um "golpe"?
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Princípios e conveniências
Jornalista e sociólogo