Muito do que eu conheço dos efeitos da corrida é empírico. Por isso, a pergunta de uma amiga, feita há mais de ano, me pegou de surpresa: ela conseguiria melhorar os sintomas de ansiedade se começasse a correr?
Até aquele momento, o que eu tinha comprovado por conta própria era que, sim, o exercício físico faz parte tanto da prevenção de depressão quanto da melhora do quadro. Não à toa, quando recentemente recebi alta do tratamento de uma depressão leve, minha médica fez questão de frisar: "A única coisa que eu te receito agora é que continue correndo".
Não apenas porque todos os psiquiatras sabem da importância do exercício físico para o tratamento, mas porque, justamente nessa fase, relatei à médica, em uma das consultas, que a mudança de horário no trabalho, aliada a algumas situações de pressão, tinham começado a me deixar mais ansiosa em determinados períodos do dia e que eu tinha feito o teste: mesmo fora de uma planilha de treino, passei a correr nem que fossem cinco quilômetros pouco antes de começar a jornada de trabalho.
A resposta para minha amiga eu já tinha: além de me sentir mais focada para enfrentar as atividades do dia, eu sentia um profundo relaxamento. O que eu não sabia, mas descobri pesquisando, é que esse processo de bem-estar pós-corrida ou qualquer outra atividade física mais intensa não é por conta apenas da liberação de endorfinas, mas de uma substância produzida pelo nosso próprio corpo que é muito semelhante àquelas encontradas na cannabis, os endocanabinóides.
Não é uma descoberta que possa se dizer recente, mas foi uma pesquisa realizada no ano passado pela Escola de Medicina da Universidade de Heildeberg, na Alemanha, que mostrou melhor esse mecanismo.
Os cientistas utilizaram ratos para fazer os testes. Primeiro, foi mostrado que os roedores apresentavam altos índices de endocanabinóide e endorfina após correrem. Todos apresentavam menos ansiedade após o exercício. Então, para um dos grupos, os pesquisadores deram remédios capazes de bloquear a recepção dos endocanabinóides, o que fez com que os ratos não ficassem tranquilos e relaxados após a corrida, ao contrário da outra turma. Já quando esse bloqueio foi feito em relação à endorfina, nada mudou na tranquilidade dos animais. A pesquisa também concluiu que eram precisos cinco quilômetros para surtir os efeitos de relaxamento.
Claro que níveis severos de ansiedade, assim como os de depressão, requerem tratamento medicamentoso e acompanhamento profissional, que incluem a atividade física no pacote. Mas são os casos mais simples que, se não tratados com a melhora da qualidade de vida, podem chegar a pontos mais difíceis de manejar. Para essas pessoas e para minha amiga, um recado: que tal tentar o quanto antes?