Escrevi outro dia que daria um pulinho na Lua e retornaria logo para contar o que vi. Pois fui. Num cinema praticamente vazio, assisti ao filme O Primeiro Homem, que narra a aventura celeste e as desventuras terrenas do astronauta Neil Armstrong, o primeiro ser humano a pisar no solo empoeirado do satélite terrestre.
Foi mesmo um pequeno passo para um homem, pois ele não se afastou muito do seu módulo de pouso, mas tenho dúvidas sobre o salto gigantesco para a humanidade. Cinco décadas depois, ainda estamos em guerra em várias partes do planeta, multidões de migrantes fogem da opressão e da miséria em seus países de origem, o despotismo e o preconceito comandam nações em todos os continentes, a criminalidade cresce a cada dia e o egoísmo prevalece sobre a fraternidade.
Não ignoro os avanços tecnológicos decorrentes da corrida espacial, mas o homem – esse complexo animal irracional, na definição de Fernando Pessoa – passa a impressão de continuar estagnado, se é que não retrocedeu. Nem vou citar exemplos de barbáries do cotidiano para não estragar o nosso dia – e a nossa noite. Afinal, hoje é noite de lua cheia. Se as nuvens do Cléo Kuhn não atrapalharem, talvez possamos apreciar a beleza do nosso refúgio espacial ainda desabitado, onde o segundo homem – e não o primeiro – deixou aquela pegada histórica.
Foi a bota de Buzz Aldrin que produziu a imagem célebre da alunissagem, mas Armstrong ficou com a glória de ter desembarcado antes. Na volta ao nosso mundo, parece que até rolou um certo ciuminho: Aldrin nunca se conformou com o tratamento diferenciado ao companheiro de excursão. Ele fazia questão de dizer que a conquista da Lua foi um trabalho de equipe, mas o reconhecimento maior sempre contemplou o comandante da missão.
Vaidades à parte, é mesmo difícil de entender esse ser humano que gasta fortunas para desenvolver tecnologia e viajar quase 400 mil quilômetros pelo espaço apenas para colocar o pé no desconhecido antes que algum conhecido o fizesse, enquanto em seu planeta natal multidões de enjeitados perambulam sem prumo nem rumo em busca de vida digna. Paradoxalmente, o mesmo homem que se ufana de ter rompido as fronteiras do cosmos fecha as divisas de seus países para impedir a entrada de seus semelhantes.
Talvez o nosso planeta já esteja mesmo superlotado. Talvez a lua cheia tenha a sua cota de responsabilidade nisso, pois, segundo os estudiosos do misticismo, sua energia influencia o nascimento de bebês. Mas a fase minguante, que vem a seguir, convida à meditação, ao planejamento e à arrumação da casa.
Com Lua ou sem Lua, bem que podíamos começar por um planejamento demográfico humanitário para a Terra, inspirado no rigor científico e na eficiência da viagem espacial que conduziu o homem ao seu satélite. Aí, sim, a humanidade talvez possa dar o seu grande salto para a paz e para a prosperidade.