Vi uma agressão cometida a um adversário numa disputa onde já não havia bola, só a vontade irrefreável do obtuso Roy Keane de agredir de forma grosseira e covarde o companheiro de profissão. Não pode haver maior desrespeito ao oponente do que arriscar inviabilizar sua carreira com uma jogada desleal.
O tempo passou, e eis que esta triste figura ressentida decidiu achar desrespeitosa a comemoração dos gols da Seleção na goleada em cima da Coreia, quando jogadores e comissão técnica protagonizaram dancinhas. Um preconceituoso jornalista espanhol já tinha insultado Vinícius Júnior pelo mesmo motivo. Sim, viva a liberdade de opinião. Mas, creia, há mais do que uma opinião esportiva atrás destas condenações. A dança de Vinícius Júnior é semelhante a do francês Griezman quando faz gol. A ele, no entanto, não houve reprimenda. Entenda como quiser. No caso deste ex-jogador irlandês tristemente magoado da vida, seu estrabismo deve considerar normal até hoje a tal agressão de chuteiras que está disponível na internet. Ali havia, vai saber, uma ideia de competição ou de masculinidade. Na dança, um deboche. Sabe o pior? Eu também prefiro a comemoração não coreografada. Nunca, porém, condenaria quem premedita sua alegria com dancinha. Pois é uma escolha onde não há certo ou errado. Cada um faz do seu jeito. O problema está em normalizar violência e demonizar alegria. O problema é pretender estabelecer um padrão fora do qual tudo estaria fora do lugar. Uma regra sem exceção. Total. Absoluta. Única. Como a cor certa. Ou a sexualidade certa. Keane, o irlandês que operou um adversário sem anestesia calçando chuteiras quando era jogador, é o paradoxo. A soberba. A falácia. Não dá para mim.
Brasileiros e quem mais queira, dancem depois do gol. Ou cruzem os braços com cara de marra como Mbapeé. Ou inventem. Ou deixem só a emoção eletrificar o corpo. Está tudo bem.