Até hoje, é devastador o efeito da queda do Inter para a Segunda Divisão do futebol brasileiro pela primeira vez em 2016. O calvário do ano seguinte resultou no acesso em segundo lugar. O presidente que assumiu o caos, Marcelo Medeiros, construiu um time modesto com o pouco dinheiro disponível para ir ao mercado.
Três treinadores estiveram no comando. Odair Hellmann, que encerrou o campeonato, abriu o ano seguinte e levou o Inter a um surpreendente terceiro lugar na Série A. Mantido, ele levaria o Colorado a vice-campeão da Copa do Brasil no ano seguinte.
Em 2020, Abel Braga encerrou o Brasileirão na segunda colocação. No Brasileirão 2021, o Inter deu por encerrada sua temporada após vencer o Gre-Nal do Beira-Rio que virtualmente determinou a queda do rival. O próprio Colorado, porém, terminaria o campeonato a cinco pontos do Z-4.
Em 2022, o clube contratou treinador a partir da premissa de não falar português. Cacique Medina não é mau técnico, mas fez um mau trabalho em Porto Alegre.
A correção de rumos veio com Mano Menezes, que livrou a torcida do temor de um rebaixamento. Mais do que isso, autorizou os colorados a sonhar com o título da Sul-Americana. Então, veio o pior. O mais do mesmo. O filme tristemente repetido. A eliminação diante de um medíocre Melgar. Em casa. Nos pênaltis.
O Inter desaprendeu a decidir desde que caiu. A autoestima foi abalada em tal dimensão que ainda não se sabe a extensão do dano. Só quando se vê o time intimidado pela hora grande, acabrunhado pelo estádio lotado e fracassando diante de equipes que são inferiores é que se tem ideia do sofrimento que não terminou na alma de quem veste vermelho.
Alguns dos protagonistas acusam o golpe cada vez que chega a tal hora grande. Edenilson é o que mais paga. Reconheceu, na corajosa entrevista que deu depois de ter jogado quase nada na quinta-feira, que há um peso, sim, às suas costas pela ausência de faixa no peito. Na leitura reiteradamente equivocada que o contexto colorado faz do seu camisa 8, ele tem potencial de protagonista.
Volta e meia um treinador descobre a América de deixar Edenilson solto para que possa ser decisivo. Não será, não é seu perfil. E quanto mais se espera que ele seja o que não é, mais cruel se torna a cobrança sobre ele.
Ao longo da carreira, do Caxias à Udinese, ele sempre foi um jogador útil. Um coadjuvante de luxo, às vezes. No Inter, até pelo cenário de redenção após o rebaixamento, imaginou-se no Beira-Rio que Edenilson poderia ser símbolo da fênix. E o fardo curvou as costas do jogador.
Demonização
No entanto, que não se cometa a injustiça de demonizar Edenilson como quem eliminou o Inter. Outros jogadores menos citados também não conseguiram superar o bloqueio mental que faz toda decisão se transformar em desespero. Esta estratégia de nunca contar a vitória como primeira ideia ao jogar fora de casa, por exemplo, precisa ser desfeita, como precisa ser desconstruído este estado de pânico que toma conta da equipe ao ser apontada como favorita.
Era evidente o favoritismo colorado diante do Melgar, basta olhar peça a peça, investimento, história. Depois do 0 a 0 em Arequipa, veio um primeiro tempo excelente em casa. Velocidade, intensidade e organização foram vencidas, porém, pela imprecisão. Desperdício tão abundante quanto a produção ofensiva.
Depois do intervalo, com uma queda de produção física assustadora, o Inter se amedrontou. A maneira como o time não sofreu com a expulsão de Gabriel deveria ter elevado o espírito colorado para a cobrança dos pênaltis. Afinal, o time resistira sem perder mesmo com um a menos. Estava em casa sob o apoio de mais de 40 mil colorados. O efeito, entretanto, foi inverso. Os jogadores foram com o emocional devastado para a decisão por pênaltis.
Com a eliminação, coberta de razão, a torcida presente no Beira-Rio então vaiou a plenos pulmões. Era mais do mesmo, a diminuição do gigante na hora em que deveria agir como o gigante que é. Cada colorado que foi para casa talvez tenha pensado no percurso até o carro, o ônibus ou a pé que ouviria nos microfones as mesmas lamúrias, as mesmas lamentações, as mesmas palavras repetidas de "futebol é assim mesmo", "a bola não quis entrar" e outras pérolas do fracasso.
Agora, o que resta é a busca da vaga direta à Libertadores via Brasileirão. A primeira medida a tomar é restabelecer o quesito emocional sempre tão frágil entre os jogadores.
O jogo deste domingo é gravíssimo. O Fluminense de Fernando Diniz quer a bola onde esteja, assim será no Beira-Rio. Se dirigentes e Mano Menezes não forem hábeis nesta recuperação da mente abalada, a campanha pode desandar perigosamente.
Não haverá estádio cheio desta vez. Quem for pode oscilar entre o apoio e a vaia magoada na hora em que aparecerem os nomes dos titulares no placar eletrônico antes da partida. A tudo isso o time terá de superar para salvar parcialmente a temporada.
Será preciso resiliência, capacidade de reação e destemor. Ou então o futuro de curto e médio prazos a ser desenhado em 2022 pode ser ainda mais melancólico do que o fim do sonho da Sul-Americana dias atrás.