O Grêmio que enfrenta neste domingo o Cruzeiro não será o mesmo que estreará na Série A do Brasileirão do ano que vem. Talvez pouco mais de um terço dos titulares do jogo na Arena, contra o líder, esteja em campo contra Flamengo, Corinthians, Palmeiras, Inter ou quem a tabela estipular na próxima temporada. Seria um risco enorme para a direção gremista que se eleja manter a base da equipe que vai subir em algumas rodadas de volta ao seu lugar.
Para se ter noção do tamanho do desafio, não se trata só de aumentar a qualidade geral do elenco, hoje muito abaixo do padrão Série A. O novo presidente do clube precisará encontrar uma estratégia de futebol que preserve seus melhores jogadores e consiga extrair deles o que tenham para dar, num nível de exigência maior do que o atual. É o caso de Geromel. Não seria absurdo apontá-lo como o melhor jogador em atividade na Segunda Divisão. No entanto, a menos que seja muito bem protegido no time de 2023, o zagueiro que faz 37 anos em setembro terá imensas dificuldades para manter seu altíssimo padrão contra atacantes muito melhores do que aqueles que hoje enfrenta.
Se o exemplo sair de Geromel para Diego Souza, a gravidade é maior. Há poucos dias, o atacante deu emocionada entrevista ao Globo Esporte falando em encerrar a carreira no Grêmio. Se decidir dar fim à trajetória no fim deste ano, merecerá todas as homenagens. Com direito à volta olímpica e tudo. Porém, caso se encoraje a jogar a Primeira Divisão pelo Grêmio, é muito difícil que consiga manter o número de gols desta temporada.
Logo, o novo presidente terá de combinar um aumento geral da qualidade no grupo, com reposição de alguns dos seus melhores jogadores – para quem o tempo passa, como passa para todo mundo. Tudo fica mais complexo a partir da realidade de que dinheiro não há. O Grêmio não terá como competir por reforços no mercado com o baronato constituído por Flamengo, Palmeiras e Atlético-MG. Tem muito menos base de time do que o São Paulo, o Athletico-PR ou o Fluminense. Está bem abaixo, inclusive, do principal rival, que foi eliminado com goleada no Beira-Rio pelo Grêmio no Gauchão.
Diagnóstico
Por ser a tarefa tão espinhosa é que me parece Roger Machado o melhor nome para comandar o novo Grêmio em 2023. Ninguém como ele tem o diagnóstico das mazelas e das promessas do atual elenco. Embora não seja um basista – neologismo que criei no Sala de Redação para definir treinador que goste especialmente de trabalhar com jogadores criados no próprio clube –, Roger já fez, na sua primeira passagem pela Arena, um time que tinha Everton surgindo, Luan como centro, Walace prometendo tanto ou mais do que Pedro Rocha.
Lá atrás, quando indicou jogadores para o clube, o treinador fez más escolhas, casos de William Schuster e Negueba. Em seu favor, cabe o argumento de que o Grêmio não tinha bala para contratar um substituto a Giuliano no mesmo padrão do titular que estava indo embora. Certo é que o primeiro trabalho de Roger no Grêmio é o norte a seguir para a remontagem em 2023.
Não creio que o atual técnico, mantido para 2023, consiga repetir todos os acertos da primeira passagem. Pode, sim, montar um time capaz de não sofrer na Série A e se candidatar às copas que venha a disputar. Já será extraordinário. A nuvem mais pesada que ameaça gremistas em geral é subir já como candidato a cair de novo. Este tipo de drama costuma ser vivido por clubes pequenos e médios. Ou grandes em dificuldades de gestão, como Vasco e Botafogo, que já subiram e caíram mais de uma vez.
O Grêmio de presidente novo terá de ser competente na potência máxima da palavra. Não haverá tempo para ir corrigindo erros durante o ano. A realidade de endinheirados por recursos externos – leia-se SAF –, como Vasco, Bahia e Cruzeiro, os outros possíveis parceiros de acesso do Grêmio para a próxima temporada, torna ainda mais ameaçadora a realidade de médio prazo para quem não terá a mesma capacidade de investimento.
Tão perto da eleição, os candidatos à presidência na Arena devem estar com planos estratégicos em andamento. Imprescindível que o novo comandante chegue ao cargo sabendo o que pretende fazer. Não pode estar no cenário gremista, ou de quem quer que suba, o método baseado em tentativa e erro. Errar, no contexto que se desenha para 2023, pode ser fatal.