A palavra que pode resumir melhor o momento que o Grêmio vive é perplexidade. Da torcida ao dirigente, passando por treinador e elenco, ninguém parece entender a distância entre o que o clube gasta para fazer futebol e os resultados de campo. Não há folha salarial na Série B que se aproxime à do Grêmio.
Mesmo que se chegue à conclusão de que os valores são distorcidos diante da qualidade dos jogadores, ainda assim é evidente que o Grêmio tem melhores jogadores do que todos ou, vamos transigir, a imensa maioria dos rivais. A conta aqui é muito simples de fazer. Cada vez que se defrontarem as escalações do Grêmio e do adversário, veja quantos jogadores do rival seriam titulares no Grêmio. Dos adversários já enfrentados até agora, nunca teria passado de dois ou três. Fazendo um esforço para não exagerar e concluir que nenhum. Nesta comparação, pense quantas equipes da Série B contam com goleiro da qualidade de Brenno, zagueiro como Geromel, talento como o de Bitello e goleador como Diego Souza. Não coloquei na lista jogador de seleção paraguaia como Villasanti. Não perguntei quem tem um lateral-esquerdo como principal assistente para gol do jeito que é Nícolas.
Evidentemente, não basta ter os melhores jogadores para vencer. O futebol apaixona porque o pior ganha do melhor com frequência. É preciso dar senso coletivo às individualidades para que um time seja bem sucedido. Neste quesito, Roger Machado tem se atrapalhado nos últimos jogos e está atribuindo à suposta juventude do elenco as dificuldades que encontra para montar uma equipe vencedora. O argumento, porém, não se sustenta. No time titular, sobram jogadores experientes o suficiente para bancar a presença dos emergentes da base. Não está dando liga, isto sim. Há um senso comum de que o Grêmio ainda não compreendeu a Série B. Faz sentido, considerando a dificuldade enorme que o Grêmio mostra de competir com times inferiores ao seu. Nem jogadores, nem treinador estão sabendo jogar a competição que se notabiliza por dispensar requintes técnicos e clamar por confronto físico.
Aliás, o que impede a turbulência de virar crise no Grêmio é justamente o baixo nível das partidas da Série B, o que causa muitos empates. Agora mesmo, depois do empate insosso e inodoro do Grêmio na Arena contra um frágil Criciúma, o Vasco só empatou com o Guarani em Manaus. Neste domingo, o Cruzeiro joga no Mineirão para mais de 50 mil pessoas. Faz a melhor campanha goleando por 1 a 0, placar das vitórias sobre Grêmio em casa e Náutico nos Aflitos. Significa que, apesar de perder para o Cruzeiro e empatar no modo medíocre com Ituano e Criciúma, o Grêmio pode voltar ao G-4 com uma vitória se houver combinação pequena e singela de resultados. Embora fosse uma insensatez qualquer cogitação de troca de treinador, o restante de maio será tenso no Grêmio. O Vila Nova no Serra Dourada e o Vasco no São Januário lotado sinalizam grandes dificuldades para o Grêmio voltar a vencer imediatamente. Sem vitória, diante dos resultados fora da curva na Arena contra Chape e Criciúma, a distância para o G-4 aumentaria perigosamente.
Serão dez dias de treinamento para Roger encontrar um desenho de time melhor do que este que varia de forma melancólica entre ter ou não ter Lucas Silva como fiador de uma tênue estabilidade do meio-campo. Se comparado aos elencos dos gigantes da Série A, certeza de que o grupo gremista seria insuficiente. Mas para os confrontos da Série B, o Grêmio deveria, sim, com estes jogadores à mão, estar jogando um futebol minimamente competente para ter firmado presença no G-4 sem entrar e sair a cada uma ou duas rodadas.
Daí a perplexidade de quem veste azul ante à irregularidade gremista. E o justificado temor de boa parte da torcida de que talvez dirigentes e treinador estejam perdidos neste momento. A janela de reforços só reabre em julho. Até lá, o Grêmio terá jogado todo primeiro turno sem novas contratações. Logo, é com este grupo que Roger Machado terá que fazer time competente. Para ontem.