O técnico que o Inter contratou para simplificar, melhorar, consolidar e talvez sonhar com algo maior na temporada está dando resultado de saída. O treinador que o Grêmio trouxe para levá-lo de volta a seu lugar já colocou faixa no peito na chegada e começa a normalizar a caminhada gremista até a Série A.
Não poderia haver melhor notícia para quem veste vermelho ou azul. Ambos vêm de vitória nas competições do meio de semana e ampliam salvo-conduto com torcidas legitimamente impacientes diante do que viveram em tempos recentes. Como sugere o título, dá para dizer que se trata de um novo Mano Menezes e de um novo Roger Machado.
Comparados ao que já fizeram em suas carreiras, os novos protocolos dos treinadores de Inter e Grêmio sinalizam adaptações à realidade de cada um. Se a temporada vai ser, como estou projetando, de travessia para os dois gigantes gaúchos, é preciso adequar as expectativas para não vê-las frustradas.
Veja o Inter de três vitórias consecutivas. A primeira da série nem tinha Mano contratado, já não havia Medina e seu trabalho ruim. Contra o Fortaleza, a comoção da despedida de D'Alessandro foi catapulta para a virada alcançada depois de o visitante ter perdido pênalti que o colocaria em vantagem no placar. Uma inédita indignação que trouxe alento à torcida.
Na estreia de Mano, o contexto lhe era favorável. O treinador anterior não tinha deixado legado algum em termos táticos, havia um deserto de ideia e prática. Mano Menezes simplificou com jogadores nos devidos lugares, marcou alto no Maracanã, venceu e injetou confiança nos comandados pela vitória e pelo desempenho a ela atrelado.
Na Colômbia, o modelo reativo mais refinado usado no Rio de Janeiro deu lugar ao possível. Desgastado de longa viagem e da intensidade do jogo do Brasileirão, o Inter defendeu muito mais do que atacou. Edenilson voltou à linha de meias, o time teve menos qualidade ofensiva e ainda assim a construção do gol foi muito competente com protagonismo de personagens que só recentemente viraram titulares, Vanderson, Dourado e Alemão.
O trio de vitórias anima a direção, que fez promoção que deve encher Beira-Rio no domingo contra o Avaí. Sócio entra direto, basta fazer check-in. O adversário talvez tenha Jean Pyerre, veja só. O time catarinense não vai atacar como tentaram Fluminense e Independiente.
Mano Menezes nunca foi retranqueiro. Seus melhores trabalhos em Grêmio, Corinthians, Seleção Brasileira e Cruzeiro tiveram o equilíbrio como marca. Significa defender e atacar com competência, priorizando verbo ou outro dependendo do contexto. Na cena desenhada para este domingo em casa, o Inter de Mano Menezes terá a volta de Taison, o que deve significar Edenílson de volta à função que melhor desempenha.
Deve marcar alto, jogar em velocidade e servir Alemão com frequência. A chance da quarta vitória consecutiva é enorme. Não vejo espaço para o time se tornar soberbo tão cedo, a amostragem é pequena para que o pecado capital se apresente. Então, pela lógica, o trabalho de Mano Menezes terá um início fulminante de quatro vitórias e a perspectiva de dois jogos em casa dos três que restam na fase de grupos da Sul-Americana. Logo adiante, Alan Patrick se somará às opções de Mano Menezes para buscar ainda mais equilíbrio entre as tarefas do time que, antes de sua chegada, provocava a mais severa desconfiança da torcida.
Agora, o Grêmio de duas vitórias seguidas na Série B. Neste sábado, o CRB vem à Arena para se defender muito. Quem poderia lhe dar desafogo prendendo a bola com qualidade se machucou e não virá se emocionar ao jogar contra o time que o resgatou do desafeto vivido no São Paulo. Maicon está fora.
Mais razões terá ainda o time alagoano para fechar caminhos e jogar por uma bola. Roger Machado não parece disposto a transigir na formação do seu meio-campo. Se em julho o mercado tiver um meio-campista indiscutível para se somar a Villasanti e Bitelo, aí sim o treinador poderá mexer.
Enquanto não, Lucas Silva seguirá tentando cumprir função ofensiva, embora sua melhor versão seja jogar de primeiro ou segundo volante marcando mais do que criando. Se o treinador não negocia o desenho do setor mais essencial da equipe, precisa encontrar soluções paliativas e, justiça se faça, está encontrando.
Seja por Nicolas vindo de trás para ser assistente de Diego Souza, pela revisão promovida no ataque. Biel se apropriou do corredor esquerdo ofensivo. Joga como ponta das antigas, procura o fundo do campo com drible e velocidade. Pedido expresso do treinador, o ex-atacante do Fluminense responde de imediato.
Campaz, adaptado ao corredor direito no Gauchão, aprendeu a marcar e não abandona seu lateral-direito quando o Grêmio é atacado. O problema é que a função prioritária de quem joga naquele lugar, atacar, o colombiano não está conseguindo cumprir. Seu jogo não verticaliza, falta perna para tanta tarefa.
Campaz é jovem e tem talento. Pode ser trabalhado para o médio prazo. Neste instante, Elias contribui mais, especialmente na hora de machucar o adversário. Jogando pelo lado, como gosta, o atacante vindo da base gremista entrou no segundo tempo em Ponta Grossa, fez o gol da vitória e se movimentou intensamente. A alternativa a Elias quando cansar, já que terá função defensiva também, não me parece ser Campaz e sim Janderson, que ganha ponto jogo a jogo com Roger Machado.
Aliás, se Mano voltou à labuta mais solícito e claro ao dizer o que veio fazer no Inter, o que inclui melhor uso das redes sociais para se aproximar de quem torce para o time que ele dirige, Roger Machado também se atualiza ao conviver com uma realidade que, segundo ele parece pensar, não lhe autoriza formatar o time com a leveza e verticalidade do time que montou em 2015.
Lá, havia Maicon, Douglas e Luan em altíssimo nível a garantir maciez no serviço de meio-campo e muita construção ofensiva. Cá, a qualidade é bem inferior e Roger não está disposto a pagar para ver. Se tiver que ser goleando de 1x0, que seja. A torcida gremista, machucada por uma temporada recente que ela não merecia viver, tenho certeza de que vai ser paciente desde que os resultados apareçam.
Esta condição é inegociável para quem se vê pela terceira vez na história muito longe do seu devido lugar. Outro dia, Roger reclamou que parecia não estar jogando em casa no primeiro tempo contra a Chapecoense.
Não entendeu naquele momento que o primeiro tempo se encerrava sem vitória e sem desempenho. Houvesse a vitória, o aplauso haveria. Querer paciência à esta altura, combinemos, é exigir demais de quem só quer voltar para onde é sua posição no mundo.
Grêmio e Inter jogam em casa neste fim de semana, os estádios estarão mais cheios do que estiveram há pouco tempo. Ambos são favoritos nos seus jogos. Os adversários prometem, silenciosamente, ônibus e carretas à frente da área para evitar o pior. A sorte está lançada e acredito, de fato, que ambos serão bem-sucedidos nas respectivas empreitadas.