Marcada pelo crescimento do influenciador digital Pablo Marçal (PRTB) nas últimas pesquisas, a reta final da campanha em São Paulo é cercada de dúvidas sobre o segundo turno, e também de queixas sobre a falta de engajamento de lideranças nacionais.
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), apesar de ter indicado o candidato à vice na chapa de Ricardo Nunes (MDB), não esteve em nenhum ato de campanha e evita manifestações de apoio ao prefeito. Já o presidente Lula, após ser cobrado por Guilherme Boulos (PSOL), decidiu participar de uma caminhada com o aliado neste sábado (5).
No lançamento das candidaturas, em agosto, Nunes e Boulos acreditavam que o apoio nacional estava garantido e seria determinante para colocá-los no segundo turno. O emedebista se frustrou logo no início. Bolsonaro fugiu de compromissos públicos na capital paulista e não quis entrar de cabeça na campanha. A situação foi piorando à medida em que a candidatura de Marçal se consolidava, conquistando votos de bolsonaristas.
A postura do ex-presidente irritou lideranças do PL, do MDB e de outros partidos da coligação, mas foi apoiada por grande parte de seus apoiadores, que veem Marçal como representante de um segmento “antissistema”. Já o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que chegou ao Palácio dos Bandeirantes pelo apoio maciço de Bolsonaro em 2022, se engajou na campanha de Nunes, participou de atos de rua e aguentou a pressão da militância de Marçal nas redes sociais.
No caso de Boulos, o apoio de Lula sempre esteve explícito. Mas o deputado federal esperava uma presença mais intensa do presidente nas agendas. Na semana passada, ele ficou decepcionado quando Lula emendou duas viagens internacionais e não passou por São Paulo. Após muita insistência, o petista decidiu de última hora comparecer à capital paulista na véspera da eleição.
Ao lado de Lula, Boulos espera confirmar seu nome no segundo turno, e depois repetir o resultado alcançado pelo petista na eleição presidencial de 2022. Apesar de ter perdido na maioria das cidades do interior, o presidente recebeu 53,5% dos votos na capital paulista, contra 46,5% de Bolsonaro.
Sem o apadrinhamento de lideranças nacionais, Marçal aposta na onda que conseguiu criar junto a milhares de internautas. Em um partido nanico, o candidato não teve direito a propaganda em TV e rádio, em razão da lei eleitoral. Mas conquistou grande parcela do público nas redes sociais com a promessa de enxugar a máquina pública, combater a corrupção e enfrentar o “sistema”.
Desde a redemocratização, em 1985, São Paulo só vivenciou uma eleição tão disputada em 2012, quando José Serra (PSDB), Fernando Haddad (PT) e Celso Russomano (Republicanos) também apareciam empatados tecnicamente nas pesquisas de intenção de voto. Neste ano, mais uma vez, os paulistanos irão às urnas diante de um cenário completamente indefinido.