Se a Amazônia está em chamas, metade do Brasil respira fumaça e algumas cidades já tiveram chuva escura, as orelhas do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, devem estar fervendo.
Acuado pela demora na adoção de medidas mais efetivas para conter a destruição da floresta amazônica, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou a criação da Autoridade Climática - mais uma estrutura pública em um país já em risco de "estrangulamento orçamentário".
E enquanto o executivo cria mais um órgão público, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flavio Dino exerce a autoridade climática de fato: agora, convocou 10 governadores para verificar o cumprimento de medidas emergenciais de combate às queimadas.
Não demora, pode surgir um novo pedido de impeachment, desta vez contra Dino. O Brasil não gosta de quem exige o cumprimento de leis, isso é muito atrasado, atrapalha o desenvolvimento.
O problema, é claro, não está na Autoridade Climática, que havia sido sugerida pela atual ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, ainda na formação do governo. Mas voltar com essa ideia enquanto a floresta arde é achar que uma gota resolve o problema das queimadas.
A essa altura, até o mais criptonegacionista da mudança do clima respira seus efeitos. Mesmo assim, parece importar mais a polarização do que uma discussão séria do que fazer para não incinerar as oportunidades que o Brasil tem com a floresta em pé. As possibilidades de ganho com bioeconomia são vastas.
O climatologista Carlos Nobre não se contentou em cansar de advertir para os riscos do aquecimento global: lançou o pré-projeto do inovador Instituto de Tecnologia da Amazônia (AmIT), que pretende ser um centro de pesquisa e ensino pan-amazônico, inspirado no Massachusetts Institute of Technology (MIT) e focado no desenvolvimento de uma nova bioeconomia.
Não é questão ideológica, é de sobrevivência. E exige velocidade na resposta do setor público, das empresas e de cada um de nós. O custo da descarbonização é alto, como disse à coluna um executivo muito comprometido com as agendas social e ambiental, Gustavo Werneck, CEO da Gerdau. Só se torna viável se todos compartilharem a conta.
Leia mais na coluna de Marta Sfredo