O jornalista Anderson Aires colabora com a colunista Marta Sfredo, titular deste espaço
Em um cenário econômico ainda sob efeito de âncoras, como juro alto e consumo das famílias cauteloso e prejudicado, a inadimplência de pessoas jurídicas não afrouxa no Rio Grande do Sul. Em junho, 13,8% das empresas registradas no Estado estavam com dívidas em atraso, segundo dado divulgado pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Porto Alegre e da Boa Vista SCPC. Esse percentual repete o nível de maio e marca o maior patamar da série histórica desse indicador, que completa 13 meses.
A pesquisa mostra que 193.367 de 1.399.184 negócios do Estado registrados no Mapa das Empresas estavam inadimplentes em junho. O economista-chefe da CDL Porto Alegre, Oscar Frank, afirma que a desaceleração da economia e o peso do juro alto na operação dos empreendimentos estão no centro desse processo de inadimplência de pessoas jurídicas:
— Juros sustentados em patamares elevados acabam trazendo essa dificuldade, esse obstáculo, porque o fardo financeiro fica mais pesado.
Segundo Frank, problemas nos orçamentos das famílias também respingam no desempenho financeiro das empresas. Comprometimento de boa parte da renda com dívidas e arrefecimento do mercado de trabalho podem entrar nesse processo negativo, que influencia na inadimplência das companhias. Por outro lado, elementos positivos, como desaceleração da inflação e estímulos do governo, impedem deterioração maior do consumo, segundo o economista.
Varejo de vestuário e acessórios, minimercados, mercearias e armazéns e restaurantes lideram entre os segmentos com maior quantidade de empresas negativadas em junho. Nos ramos de vestuário e alimentação fora de casa, Frank afirma que a pandemia desregulou a operação desses negócios. No grupo de minimercados, o avanço das grandes redes acaba afetando a competitividade desses negócios de porte menor, segundo o especialista.
O faturamento presumido das empresas inadimplentes mostra que 74,5% faturou até R$ 360 mil nos últimos 12 meses. Frank afirma que isso segue mostrando, de maneira geral, dificuldade maior no âmbito dos CNPJs com estrutura financeira menos robusta:
— Muitas vezes, essas empresas têm de recorrer ao crédito para realizar algum tipo de investimento ou melhoria. Com esse cenário de juro elevado e falta de robustez, isso acaba resultando nessa restrição.
Olhando o recorte de Porto Alegre, o dado apresenta persistência ainda maior. Em junho, 15,2% dos negócios da Capital estavam em situação de inadimplência. O percentual supera o dado de maio (14,9%) e marca o maior patamar na série histórica do levantamento.
Para os próximos meses, Frank estima cenário com a inadimplência de empresas ainda em nível elevado em um ambiente de economia perdendo ritmo. Efeito do início do corte na taxa Selic nesse indicador seria observado apenas a partir da segunda metade do próximo ano, na avaliação do economista-chefe da CDL.