O absurdo e violento episódio da prisão do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) impõe às campanhas eleitorais nesta reta final um compromisso com a paz. Não se trata de criar falsos equilíbrios: como Jefferson havia se aproximado de Jair Bolsonaro (PL), a maior responsabilidade é dos aliados do atual presidente e candidato à reeleição, que chegaram a defender o acusado antes que o próprio Bolsonaro o chamasse de "bandido" e "criminoso".
Como a trajetória de Jefferson foi alimentada no primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), até o rompimento que levou à descoberta do mensalão, a construção desse personagem é uma obra com muitas mãos.
Ainda é preciso justificar o fato de o ministro da Justiça, Anderson Torres, tenha negociado a rendição de um acusado que havia ferido dois policiais federais com 20 tiros de fuzil e duas granadas. Também será necessário explicar como uma pessoa em prisão domiciliar tem acesso a esse tipo de armamento. O mais urgente é garantir que esse episódio tenha sido o ápice da violência na campanha e nada pior possa acontecer. Os dois candidatos à Presidência precisam assumir esse compromisso.
Até em decorrência das vagas explicações dadas pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, e por Bolsonaro sobre a intenção de mudar a regra de correção do salário mínimo - um garante reajuste pela inflação, mas não diz se é a passada ou a futura, outro afirma que "no momento" não haverá mudança - havia expectativa de que a economia, enfim, ganhasse tração como tema nestes últimos seis dias de campanha.
Lula segue muito cobrado, inclusive por apoiadores, para que defina pontos cruciais do programa, como o substituto do teto de gastos. Ainda mais porque essa é uma das poucas certezas definidas em programa e reafirmada pelo candidato. Indicar ministro sem definição do resultado é desnecessário, mas traçar um perfil do ocupante do cargo ajudaria a dar contornos às diretrizes ainda bastante vagas.
Nenhum dos candidatos guarda qualquer compromisso com a realidade orçamentária. A taxação de dividendos apontada por Bolsonaro como possível fonte de recursos para bancar a manutenção do benefício de R$ 600 em 2023 não deve trazer grande ganho de arrecadação se for implantada de maneira correta, alertou Bernard Appy, o diretor do Centro de Cidadania Fiscal e principal mentor da reforma tributária. Lula promete criar um ministério por dia, praticamente. Ambos incluem pagamentos extras ao que já não está garantido no orçamento. A essa altura, a coluna se dá por satisfeita se nenhum outro tiro for disparado na campanha.