Autor do livro A Cabeça do Brasileiro, Alberto Carlos Almeida é um dos convidados do 6º Colóquio do Fórum da Liberdade, que terá nesta segunda-feira às 19h, no Sheraton Porto Alegre, Jorge Gerdau Johannpeter, presidente do conselho consultivo da Gerdau, e o escritor Bruno Garschagen para discutir o tema Brasil: um problema cultural?. A coluna falou com Almeida para antecipar seu ponto de vista.
Valores
"O livro não tinha julgamento de valor. A pesquisa mostrou que valores sociais mudam conforme a escolaridade, e o país está no meio dessa mudança. Valores são algo que muda lentamente. No futuro, a tendência é de que uma pesquisa do mesmo tipo tenha resultado diferente, mas essa mudança é gradual, incremental."
Modelos
"Existem réguas de medição diferentes. Quando se utiliza a régua americana, se imagina que o Brasil possa ser, um dia, igual aos Estados Unidos. Como os dois países têm diferentes formações históricas, culturais e religiosas, essa é uma expectativa de algo que não vai acontecer."
Brasil e futuro
"O Brasil espera coisas que não existem. Nem é um país fracassado, nem o país do futuro. Tivemos um longo período, nos governos FHC e Lula, de ajustes, reformas profundas e prosperidade. A população, que vivia mal, saiu da linha da extrema miséria. Todo o país tem crise, não é necessariamente uma volta ao passado. A Espanha e outros países da Europa tiveram crises, de 2008 até hoje, mais profundas e graves, considerando os indicadores de emprego."
A primeira crise
"Meu filho de 15 anos nunca viveu uma crise, a última foi em 2001 e 2002. É a primeira vez que uma geração ouve de maneira recorrente a palavra crise. Não é cultural, tem a ver com o fato de não terem sido tomadas decisões corretas no passado. Então, precisa fazer ajuste, e todo ajuste é difícil, penoso para população."
Expectativas e erros
"A principal decisão nos quatro anos anteriores foi estimular a economia pelo meio do gasto. Isso fez com que o governo renunciasse a recursos. Subsidiou investimentos, consumo, com gasto público. Isso gerou um passivo. A crise tem a ver com o fato de a presidente Dilma ter sido eleita para dar continuidade a seu governo anterior e ter tido de mudar, por conta das decisões econômicas tomadas durante os quatro anos de governo dela. Se as decisões tivessem sido outras, teria tido condições de dar continuidade. Quando um governante se reelege, presume-se que para seja para continuar. Como teve de mudar, esse foi um grande problema."
Polarização
"O aumento da polarização tem relação com a situação econômica. Em uma situação em que todo mundo melhora, todos ficam felizes. Quando todo mundo piora, não tem saída. Estamos vivendo uma situação recessiva que leva à polarização. É um pouco o reflexo de 12 anos de uma mesma força política no poder. Outras forças políticas não têm acesso a recursos da União, à implementação de políticas públicas, e isso também gera ressentimentos. O aumento da polarização também está associado ao predomínio longo de uma força política. Também é reflexo do problema da política de Brasília, de relacionamento do Poder Executivo com o Poder Legislativo."
Perspectivas
"Crises acontecem. Do ponto de vista histórico, dois ou três anos de crise não é nada. Importante é tomar as medidas corretas para sair dela. Creio que isso esteja sendo feito. Leva tempo para atacar as causas e sair do problema."