As pessoas são mais inteligentes dormindo do que acordadas. Todas sonham, mesmo que não se lembrem depois, e seus sonhos são sofisticadas narrativas cifradas, de grande complexidade temática e riqueza simbólica. Meninos de rua sonham como Borges, engenheiros são surrealistas oníricos, debutantes vazias levam a arte da elipse visual a extremos de criatividade, quando dormem. O sonho não é apenas um grande nivelador intelectual – qualquer cerzideira escreveria como a Clarice Lispector se apenas pudesse botar a trama dos seus sonhos num papel –, também é o grande apagador de fronteiras: os sonhos da Rita Cadilac e do arcebispo estão plugados no mesmo provedor de signos, disfarces, desejos e medos, o mesmo roteirista maluco, de todo o mundo. Os sonhos só não são a linguagem comum da espécie porque ainda não se chegou a um vocabulário comum para entendê-los. As mensagens são as mesmas para todos nós, variam as interpretações.
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Luis Fernando Verissimo: sonhos
O sonho não é apenas um grande nivelador intelectual, também é o grande apagador de fronteiras
Luis Fernando Verissimo