São cinco finais e três títulos de Libertadores. Na noite desta terça-feira, no La Fortaleza, o River Plate encara o Lanús precisando de um empate para partir em busca do tetra da América, o que representaria a segunda conquista do principal torneio do continente em pouco mais de dois anos.
Alicerçado no poder de Marcelo Gallardo de reconstruir a equipe, o Millo, como é chamado pela sua torcida, aposta suas fichas em um Scocco inspirado e em nomes com história em Núñez, como Maindana e Ponzio, e outros promissores, como Montiel e Pity Martinez.
A seguir, conheça o River em sete toques.
UM PAÍS
Pode-se dizer que a torcida na Argentina se divide em três: Boca, River e os demais. Uma pesquisa feita em 2012, apontou que o Boca lidera o ranking, com 41,5% dos fãs no país. O River vem em segundo, com 31,8%. Somados, os dois representam a paixão de 73,3% dos torcedores. Todos os demais clubes dividem 26,7% da população.
Para a torcida, o clube é o Millonario, ou Millo. O apelido vem do timaço dos anos 30, a La Máquina, que contratou os jogadores mais caros do país, como Bernabé Ferreira, Labruna e Di Stefano. Bernabé,que custou 10 mil pesos, foi a contratação mais cara da história até então, o que motivou o apelido.
Os tempos mudaram, mas o River segue sendo chamado por Millo nos cânticos que embalam mais de 60 mil pessoas no Monumental de Núñez, no norte da Capital Federal.
MODELO DE JOGO
As saídas de Driussi e Alário desmontaram a máquina do River. Marcelo Gallardo recebeu reforços de renome, como o zagueiro Pinola, o volante Enzo Pérez, repatriado do Valencia por 3 milhões de euros, e os atacantes Scocco e Rafael Borré. Mas só agora ele consegue encaixar a equipe outra vez.
Gallardo aposta em dois laterais jovens e com vigor físico. Eles atacam sempre. Montiel costuma entrar pelo meio, em diagonal. No meio-campo, Ponzio guarda mais posição e amacia a saída do time. Tudo passa por ele. Ao lado dele, Enzo Pérez sai mais, como um meia.
Nacho Fernández e Ariel Rojas jogam quase sobre a linha, como ponteiros. Na frente, Gallardo atendeu ao pedido de Pity Martinez e o posicionou mais próximo de Scocco. Os dois, no entanto, ainda não dialogam com a bola. Buscam, de forma individual, o gol.
OS NACHOS
Na Argentina, um Ignácio vira sempre Nacho. O River tem dois: Scocco, o mais conhecido aqui, pela passagem no Inter, e Fernández, um extrema que atua pela direita e joga com classe e eficiência.
O segundo é daqueles que ajeitam times. Foi comprado em 2015 o Gimnasia-LP. Recém havia sido eleito craque do Argentino e veio para o lugar do uruguaio Carlos Sánchez.
Scocco, por sua vez, vive dias de glória no River. Em 14 jogos, fez 12 gols. Desses, sete foram na Libertadores, os cinco no Jorge Wilstermann, um no Guaraní-PAR, pelas oitavas, e o do 1 a 0 no Lanús.
OS GURIS
Umas das grandes virtudes de Marcelo Gallardo é apostar, sem medo, em jovens. Neste novo River, ele surpreendeu a Argentina ao escalar os laterais Montiel, 19 anos, e Saracchi, 20 anos, na semifinal contra o Lanús.
Montiel é cria da base, onde foi capitão e atuava como zagueiro. O uruguaio Saracchi chegou ao final da janela, comprado por US$ 3 milhões ao Danubio. Sua atuação contra o Lanús encheu os olhos, mas a lesão muscular sofrida aos 45 do segundo tempo o tira do jogo de volta — Milton Casco, assim, recupera a posição.
Outros guris de Gallardo são os atacantes De la Cruz, 20, uruguaio, e Borré, 22, colombiano. De la Cruz é o novo diamante uruguaio. Irmão de Carlos Sánchez, foi comprado pelo Milan e, como será pai em breve, adiou a ida para a Europa. Borré teve 50% dos direitos comprados ao Atlético de Madrid.
EL NAPOLÉON
Marcelo Gallardo voltou ao River para recolocá-lo entre os grandes da América. Formado no clube, onde chegou com 12 anos, era o craque do time em 1996, na conquista da Libertadores. Só que o River saiu do cenário internacional e até caiu para a Segunda Divisão argentina, em 2011.
Gallardo assumiu como técnico em junho de 2014. Seis meses depois, o clube era campeão da Sul-Americana e voltava a conquistar um título internacional após 17 anos. Em 2015, veio o tri da Libertadores. Gallardo está entre os sete que ganharam a América como jogador e técnico.
"El Muñeco" (O Boneco) nos tempos de jogador, virou Napoleón como técnico. A referência ao imperador francês da voz de Atílio Costa Febre, narrador e voz emocionada das conquistas do River. O apelido pegou tanto que o River passou a vender em sua loja oficial um chapéu parecido ao que o líder francês usava nos campos de batalha.
O SÍMBOLO
Jonathan Maidana é, hoje, um pilar deste River Plate reconstruído. Ele é o único remanescente do time que caiu para a Segunda Divisão, e ficou para voltar na temporada 2011/2012 e fazer história nesta década. Não foi um caminho fácil. Ainda mais que Maidana havia feito parte do grupo do Boca campeão da América em 2007, sobre o Grêmio. Tanto que, no vestiário do Monmental de Núñez, mintuos depois do acesso, registrou-o em uma tatuagem no braço.
Aos 31 anos, ele virou ídolo e líder deste River multicampeão. Maidana tem o perfil do zagueiro argentino. Chega firme em todas e sem piedade do atacante. Desde junho, forma dupla com Pinola, 34 anos, e que passou 13 temporadas no Nuremberg-ALE. No ano passado, atuava como lateral-esquerdo no Rosario Central que tirou o Grêmio da Liberadores. É outro que não pede licença para assombrar o atacante.
UM LÍDER
Gallardo é um técnico inventivo. Costuma trocar os jogadores de posição e fazer com que se tornem multifuncionais. No ano passado, tentou colocar Leo Ponzio de zagueiro. Não funcionou. Devolveu-lhe ao meio-campo, diante da área, e como um passe de mágica aprumou o time.
Ponzio é uma espécie de Pirlo do River. Atuava mais à frente e recuou para afinar o futebol do time. Ele voltou ao time na metade da campanha do acesso, em 2012, depois de quatro temporadas no Zaragoza-ESP. Está na oitava temporada seguida em Núñez.
Clássico, sabe fazer o jogo andar sem correr. Joga como meia, mas marca como um volante, mostrando a garra da chuteira quando necessário.