Quando o homem com uniforme vermelho chegava, toda a vizinhança ficava de olho para saber quem receberia a visita. Nem aqueles que estavam no trabalho escapavam. Camisa, calça e quepe vermelhos. Nas costas, estava escrita a profissão: cobrador. Eles ficaram conhecidos em Porto Alegre e outras cidades brasileiras como "homens de vermelho".
Durante uma das partidas da Copa do Mundo, quando narrador fez referência a um homem de vermelho, um jogador, Adroaldo Guerra Filho, o Guerrinha, comentou comigo no estúdio sobre os antigos cobradores. O personagem ficou na memória do jornalista, que na infância via o constrangimento de vizinhos no bairro Partenon. Os "homens de vermelho" circularam pelas ruas da capital gaúcha durante a década de 1960.
Em acervo de fotos em preto e branco do jornal Última Hora, estão registros de novembro de 1960. Várias empresas de cobrança usavam a estratégia do uniforme vermelho. Em 1962, de acordo com reportagem do Diário de Notícias, a polícia gaúcha recebia muitas queixas de devedores intimidados, ameaçados e humilhados. Nas delegacias, chegavam relatos de chantagem, coação e lesões corporais. Em 1969, operação foi realizada em um escritório na Rua Voluntários da Pátria depois que uma mulher alegou ter sido ameaçada com faca e revólver quando avisara que não tinha condições de pagar. A firma tinha mais de 20 funcionários de cobrança e prestava serviços até para agiotas.
Outras cidades também tiveram os "homens de vermelho". Localizei registros no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte. Em março de 1961, o jornal Correio da Manhã noticiou o início do serviço no Rio de Janeiro. O Diário da Noite detalhou que a empresa enviada primeiro um cobrador à paisana, que estabelecia o prazo para pagamento antes da volta do funcionário de uniforme vermelho. Após a primeira visita, 85% pagavam. Pelo texto do jornal carioca, a inspiração veio da cidade de Nova York. A empresa recebia uma comissão pelas dívidas pagas, desde promissórias e cheques sem fundo até aluguéis atrasados.
Os "homens de vermelho" causaram muita polêmica até os uniformes serem abandonados na década de 1970.
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