Os primeiros dias de dezembro de 1911 foram de grande ansiedade em Porto Alegre. Os jornais noticiavam a chegada do aviador italiano Bartolomeo Cattaneo, um dos primeiros no mundo a obter a licença de piloto civil. Depois de exibições no Chile, Uruguai e Argentina, veio protagonizar o primeiro voo de avião no Rio Grande do Sul.
O aviador chegou a Porto Alegre em 8 de dezembro, uma sexta-feira, no navio Javary. Ele foi recepcionado no trapiche do porto por representantes do governo e da comunidade italiana. Além da apresentação de banda de música, ganhou salva de palmas do público. Era uma celebridade. O visitante hospedou-se no Grande Hotel, na Rua da Praia, junto com José Morini, representante da empresa que o contratou para a apresentação. O aeroplano Blériot, a máquina que voava, chegou em um vapor argentino.
Os primeiros voos em Porto Alegre ocorreram na pista do antigo Prado Riograndense, no Menino Deus. O pavilhão recebeu um pequeno público selecionado no dia 10 de dezembro. Cattaneo fez um voo apenas de teste do Blériot, dando voltas por dez minutos na região onde ficam atualmente a Secretaria da Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural do Estado, o Centro Estadual de Treinamento Esportivo (CETE) e outros imóveis. A apresentação para o grande público, como estava planejado para aquele dia, precisou ser adiada devido às condições climáticas.
Em uma terça-feira, 12 de dezembro, com pedido para comércio da cidade fechar mais cedo, uma multidão se dirigiu ao Menino Deus. Os bondes ficaram lotados. O pavilhão do antigo hipódromo recebeu as autoridades, como o presidente do Estado, Carlos Barbosa. A criançada subiu nas árvores para conseguir ver a movimentação. Às 18h, Cattaneo fez a última revisão e subiu no avião. Um mecânico girou a hélice, colocando o motor em movimento. Depois de ganhar impulso, o pequeno avião percorreu 25 metros de uma reta até começar a voar.
Cattaneo tomou o rumo do Morro da Polícia e em seguida deu duas voltas em torno da área tomada pelo público. Sem dificuldades, pousou na pista improvisada. O italiano foi ovacionado pelas pessoas que pagaram ingresso. Como escreveu o jornal A Federação, "pela primeira vez o público da nossa culta capital teve o espetáculo da ascensão do mais pesado que o ar". O italiano fez mais exibições nos dias seguintes.
Um acidente foi registrado em 17 de dezembro. Com duas horas de atraso por causa do vento, a primeira tentativa foi fracassada. O avião aterrissou poucos metros após o início do voo. O italiano voltou ao ponto de partida e decolou rumo ao morro do Menino Deus. Logo, o público o perdeu de vista, já que estava anoitecendo. Espectadores com binóculos começaram a relatar que viram o aparelho Blériot cair na encosta do morro.
A polícia foi acionada para o deslocamento. O repórter do jornal A Federação subiu no cavalo e partiu rumo ao local do possível acidente. Cattaneo não tinha ferimentos. Em francês, o repórter perguntou a causa da queda. O italiano respondeu que não houve acidente, mas um pouso forçado por causa do forte vento. Ele não gostou da pergunta e o jornalista ficou insatisfeito com a resposta.
Depois de quase duas semanas na cidade, em 20 de dezembro, o aviador deixou Porto Alegre rumo a Pelotas, onde a população também viu pela primeira vez um avião.
O pesquisador Ronaldo Bastos recuperou carta escrita em 14 de fevereiro de 1912 por Bartolomeo Cattaneo e endereçada a Louis Blériot, dono da fábrica de aviões em Paris. Ela está sob guarda do Museu Aeroespacial da França e trata do episódio na capital gaúcha. Cattaneo admite o acidente e explica que "um morro próximo ao campo fez com que o vento trocasse subitamente sua direção" e na elevação sentiu "grande vibração". O aviador escreveu que "o aeroplano foi bravo e resistente, mas estava em baixa altura", por isso não conseguiu evitar a queda. Completa dizendo que felizmente nada sofreu e não ocorreu nenhuma quebra no aparelho. Apenas um dos cabos se rompeu.
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