
A maior catástrofe climática da história do Rio Grande do Sul afundou sonhos, cingiu famílias e legou prejuízos incalculáveis. Mas, da lama, brotou algo maior do que dor e paralisia. Renasceu a solidariedade.
Em tempos extremos, com a disputa política minando relações, a falta de diálogo nos jogando no abismo da intolerância e os nervos à flor da pele, não é pouco. No sofrimento, as pessoas voltaram a olhar para o lado.
Um ano depois da enchente que ficará marcada para sempre nas nossas vidas, é impossível apagar das retinas cenas como a que ilustra este texto. A imagem foi captada pelo fotojornalista Jeff Botega no dia 13 de maio de 2024, em um dos locais mais emblemáticos de Porto Alegre.
Transformada em ponto de resgate e de acolhimento, a Usina do Gasômetro parecia outro lugar. Quem passou por ali, testemunhou o que quero dizer. Lá, vimos gente entrando na água para estender a mão a pessoas que nunca tinham visto, voluntários abraçando flagelados tilitando de frio e febre, anônimos salvando vidas.
Ali e em tantos outros recantos deste Estado, a força, a resiliência e o desejo de superar as dificuldades foram maiores do que todo o resto.
De longe, o Brasil viu a nossa força e se emocionou junto. E o que país assistiu à distância não foi o Rio Grande com fama de marrento e autossuficiente. Não foi aquele que, um dia, falou em separatismo. A verdade é que a imagem do gaúcho mudou depois de tudo que passamos. E mudou para melhor.
Ainda há muito por fazer. O Estado segue desprotegido e despreparado para a emergência climática, há pessoas vivendo em abrigos e esperando novos lares. Existem estradas por reconstruir. Estamos longe do ideal e precisamos, sim, cobrar de quem deve ser cobrado.
Só não podemos esquecer - jamais - da força que temos como sociedade civil organizada e da capacidade de união que demonstramos no momento mais difícil. Passamos por cima de todas as divergências.
A solidariedade que brotou da lama fez surgir um Rio Grande melhor, apesar de tudo.