
O ritmo bugio, considerado o primeiro gênero musical genuinamente gaúcho, está prestes a se tornar patrimônio cultural imaterial do Rio Grande do Sul. Por meio de parecer técnico, o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae) publicou, em fevereiro, uma indicação favorável para que o estilo seja incluído no Livro de Registros das Formas de Expressão do Estado.
O parecer foi emitido após um pedido de reconhecimento do gênero protocolado no Iphae pelas prefeituras de São Francisco de Assis e São Francisco de Paula. A solicitação foi enviada ao instituto em 2023, mas sua formalização exigiu mais de uma década de pesquisas e a reunião de materiais para a elaboração de um inventário do bugio.
Rafael Castelli, secretário de cultura de São Francisco de Paula, comemora o parecer favorável e reforça a importância do reconhecimento de mais uma vertente da música gaúcha.
— A cultura trabalha a autoestima do povo. Quando a gente pensa no bugio como patrimônio, a gente está fazendo todo um resgate histórico. Isso é mais um elemento para o Estado do Rio Grande do Sul, para a cultura, para a arte, que valoriza essa tradição —declarou.
Israel Da Sóis Sgarbi é acordeonista há 34 anos e pesquisador do bugio desde o início dos anos 2000. Durante uma década, o músico reuniu material e fez pesquisas em campo para entender a origem do ritmo. Conforme o músico, o estilo foi oficialmente registrado em 1955, com a gravação da música Casamento da Doralice.
— Todos os ritmos gaúchos têm uma origem em outras vertentes. Geralmente, são influências do Prata, da Europa e de outras regiões . Já o ritmo do bugio se diferencia de todos os outros ritmos gaúchos, porque sua origem está exatamente no nosso território, o Rio Grande do Sul — afirmou.
Segundo o pesquisador, a singularidade do bugio está no molejo do jogo de fole no acordeon. Para ele, o instituto tomou uma decisão certa ao reconhecer a importância do estilo na música e na cultura gaúcha:
Cuidar e considerar o bugio é como cuidar e considerar um filho. Se a nossa terra, o Rio Grande do Sul, tem um filho, esse filho é o bugio.
ISRAEL DA SÓIS SGARBI
A análise final sobre o registro do bugio como patrimônio do Estado ainda será realizada por uma instância responsável pela avaliação das propostas submetidas ao Iphae. Caso seja incluído no livro, o bugio passará a integrar a lista de bens culturais imateriais reconhecidos pelo Rio Grande do Sul.
Enquanto aguarda a decisão final sobre o ritmo, Israel já projeta quais serão os próximos passos. A ideia é ir atrás do reconhecimento do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
— Eu tenho certeza que o bugio vai ser patrimônio do Rio Grande. E depois do Rio Grande, ele vai tomar Brasília — disse esperançoso.
* Produção: Isadora Terra