Decidi moderar o consumo de álcool. Eu e um bando de gente que passou a ser alvo de um fenômeno chamado de “sober shaming” entre os moderninhos das redes sociais. É a “vergonha” ou “humilhação dos sóbrios”.
A nova expressão da moda é um tanto quanto melodramática, mas traduz uma prática mais comum do que a gente imagina (até optar pelo drinque sem álcool no happy hour da turma). Ao negar aquele canecão de chope cremoso, você se torna um ser de outro mundo. O álcool é parte da nossa cultura.
— Como assim, nem um brinde? Só um copo não vai fazer mal — argumenta o amigo ou a amiga, com a melhor das intenções do mundo, sem perceber que está praticando a tal “humilhação”.
O termo é exagerado. O que o outro quer é apenas socializar com você, e o álcool, você sabe, deixa tudo mais leve, fluido e divertido (exceto quando vira ressaca na manhã seguinte).
Quem opta por beber menos ou por cortar o hábito (não só aceito como esperado), ganha fama de chato ou de “estraga prazeres”. Mais do que isso: corre o risco de deixar de ser convidado. Perde amigos.
Li em algum lugar que o álcool é a única droga sobre a qual você precisa se justificar por não usar. E não é verdade?
Antes que você me pergunte, não sou alcoólatra e amo vinho e espumante (principalmente se forem da Serra). Gosto muito de cerveja, caipirinha, cachaça, Gin Tônica e otras cositas más. Este texto não é contra a indústria nem contra quem bebe. Nada disso. A ressalva não invalida a decisão de moderar o consumo — beber menos e com mais qualidade.
O brinde fica melhor em ocasiões especiais, quando há um propósito, ou simplesmente na hora em que der vontade — de verdade, não apenas para se sentir aceito em um evento social. Que cada um tenha liberdade de escolha, até para brindar com água. Tim-tim!
Aliás
A obrigação de dar satisfação aos outros é o principal obstáculo para um em cada três brasileiros que decidem reduzir o consumo de álcool, segundo levantamento da empresa de consultoria Go Magenta.
Gen Z
A redução no consumo do álcool tem se revelado uma tendência em especial entre membros da geração Z (pessoas de 20, 25 anos de idade).
Entre essa turma, avançam as bebidas com baixo ou zero teor alcoólico. Aí entram os mocktails (drinques que imitam coquetéis e podem ser muito saborosos), as cervejas e os vinhos sem álcool (estes, inclusive, já presentes nos catálogos de vinícolas gaúchas).