Plataformas de aposta online — as bets — assumiram de vez o lugar que, um dia, foi das máquinas caça-níqueis para os adictos em jogos, com uma diferença crucial: agora, a fonte do vício está no bolso e dentro da lei.
Basta ter um telefone celular para acessar as plataformas, o que explica o rápido avanço do negócio. O problema não é o entretenimento. É o aumento exponencial dos casos de comportamento compulsivo (jogo patológico), com consequências financeiras graves e danos à saúde mental.
Virou uma pandemia, como disse a ministra da Saúde, Nísia Trindade, e o “vírus” está em todos os lugares. Quem não se surpreendeu ao saber que até beneficiários do Bolsa Família andam apostando? E a culpa não é do programa social. Estudantes de Ensino Médio também estão na lista de viciados.
O fato é que, antes das bets, era mais difícil a vida dos apostadores. O jogador tinha de procurar uma casa clandestina (os famigerados bingos) para alimentar a dependência.
Em 2008, participei de uma reportagem especial em ZH intitulada “A sobrevida dos caça-níqueis”. Fui a uma residência insuspeita, em Porto Alegre, onde a jogatina corria solta. Vi o estrago de perto. Uma senhora dizia que, quando ganhasse R$ 100, iria embora. Ela não foi e perdeu muito mais do que isso.
Hoje, se você tem um aparelho telefônico conectado à internet, o risco é infinitamente maior.
Em fase de regulamentação, a lei das bets, aprovada no Congresso no fim de 2023 e sancionada pelo presidente Lula, precisa ser revista. Até o varejo está sendo afetado pelo superendividamento das famílias. Não é brincadeira: tem gente arriscando o dinheiro da comida dos filhos nisso.
A atividade das bets é legítima, mas o país precisa de diretrizes mais rígidas sobre as apostas online. Ou o poder público impõe limites, ou ainda vamos ouvir falar muito de ludopatia.