Deu no New York Times, um dos mais respeitados jornais do mundo: água é tendência. Parece esquisito pensar algo assim, mas uma das projeções para 2024 é de que, neste ano, iremos não apenas debater com mais profundidade a gestão desse recurso essencial à vida, como buscar formas, digamos, diferentes de consumi-lo.
Aprendemos na escola que o líquido que sai das torneiras deve ter três características indubitáveis: ser inodoro, incolor e insípido. Isso não muda, mas, veja bem, a moda agora é outra.
Vêm aí, segundo o NYT, novas versões do bom e velho copo d’água: mais saborizadas, mais aromatizadas, mais glamourosas, mais instagramáveis e mais gourmetizadas. Mais tudo.
Em 2023, o TikTok (rede social que caiu nas graças do público jovem) já difundiu uma profusão de vídeos curtos com pessoas polvilhando ingredientes de todos os tipos na taça —essências especiais, ervas excêntricas, especiarias exóticas, frutas e flores variadas e multicoloridas, verduras e até legumes (água com batata, hummm… delícia!). Se as previsões estiverem certas, a prática vai conquistar mais adeptos. E pode anotar: vai pipocar na sua tela.
Não se surpreenda, portanto, se começar a ver por aí um exército de “sommeliers de água”, como os de vinho. E uma infinidade de perfis nas redes dando “dicas imperdíveis” sobre “hidratação premium”.
Já vislumbro o dia em que, ao chegar a um restaurante, seremos recepcionados por um sorridente garçom, segurando um novo cardápio nas mãos. Com ar triunfante, ele nos entregará o water menu, sim, porque, em inglês, você sabe, é muito mais cool (e dá para cobrar bem mais caro, my dear friend).
— Aceita um drinque d’água com mirtilos, louro, pimenta, losna, cúrcuma e alecrim, senhora? É bom para os rins. Não? Quem sabe um verre d’eau à l’orange (nota da cronista: em francês, o preço aumenta)? Tem saído muito, senhora! Dizem que combate o envelhecimento precoce, faz bem para a pele e regula o funcionamento dos intestinos.
Ok, ok, estou exagerando e com essa hipótese bizarra de combo detox à base d’água, embora não se duvide de mais nada hoje em dia.
Mas, falando sério: o lado bom dessa história (fora os exageros, as dicas furadas e os charlatães querendo ganhar dinheiro fácil) é que beber água faz bem. E mais: se de fato o planeta acordar para o debate sobre o futuro (e o presente) desse recurso natural, ganhamos todos.
Não se trata apenas de evitar desperdícios nem de reforçar cuidados ambientais. É preciso encontrar um jeito de preservar melhor nossas fontes, reutilizar tudo o que for possível e armazenar bem a chuva. Há também uma discussão alternativa, ainda pouco falada, sobre novas formas de geração do líquido - já tem gente coletando o caldo que sobra da colheita de cacau, por exemplo. Por que não?
Outro ponto: o consumo consciente. Significa priorizar produtos que exijam menos água na produção, inclusive nos processos de fabricação das embalagens.
Você pensa nisso quando compra algo no supermercado? Pois deveria. Está aí uma ótima forma de começar 2024.