Nesta semana, Porto Alegre recebeu um ônibus diferente dos modelos tradicionais usados no transporte público da cidade. Como a coluna noticiou em primeira mão, um veículo coletivo 100% elétrico, carregado de passageiros, rodou pelas ruas e paradas da Capital entre a última quinta (29) e sexta-feira (30). Se tudo der certo, não será a última vez.
Conversei com o secretário de Mobilidade Urbana, Adão de Castro Júnior, para saber mais sobre o projeto-piloto em gestação, que pode ser o primeiro passo de uma longa caminhada. Desafios não faltam ao sistema de mobilidade, todos sabemos disso, e eles são múltiplos. Mas não dá para pensar o futuro dos deslocamentos urbanos sem levar em conta - também - o aspecto ambiental.
Ainda em julho, a prefeitura vai lançar um chamamento público voltado a fabricantes de ônibus com tecnologias sustentáveis. A ideia é abrir as portas para que as empresas façam testes na Capital, não só de modelos elétricos, mas também híbridos e movidos a hidrogênio - e o que mais aparecer.
Pelo menos quatro fabricantes, segundo Castro, já sinalizaram interesse em participar, entre elas as brasileiras Marcopolo (responsável pelo bus testado esta semana) e Eletra, e as chinesas BYD (com fábricas no Brasil desde 2015) e Higer, fornecedora dos primeiros 15 ônibus elétricos de Cascavel (PR), que iniciou a transição da frota neste ano.
O secretário explica que os testes terão 90 dias e não excluirão nenhum interessado. A intenção é avaliar a adaptabilidade dos diferentes protótipos às características de Porto Alegre. Não haverá custos aos cofres municipais, e os veículos serão testados na “vida real”, rodando em linhas convencionais, inclusive com motoristas que já atuam no sistema. Os testes serão acompanhados por técnicos enviados pelas empresas.
— Estamos trabalhando nesse assunto desde o ano passado, quando lançamos o programa Mais Transporte. A renovação da frota com tecnologias sustentáveis é uma meta de longo prazo. Com os testes, vamos começar a avaliar o que funcionaria melhor aqui — diz Castro, que conheceu experiências em andamento em São Paulo e São José dos Campos.
A avaliação incluirá performance, conforto, necessidade de adaptações nas garagens e nos próprios veículos (como altura em relação às paradas) e funcionamento das recargas (se as estações ficariam nas garagens ou em terminais-chave). O edital está pronto e em fase de revisão.
E o que vem depois?
Mesmo que os testes deem certo, para viabilizar a transição, será preciso buscar linhas especiais de financiamento (há a expectativa de que o governo federal lance uma delas em breve, com juros reduzidos ou até mesmo zero) e também fundos de investidores interessados em aplicar recursos no setor (há um movimento global nesse sentido, relacionado à sustentabilidade).
Hoje, a frota da Capital tem 1,1 mil ônibus, e a transição seria gradual, começando com 10 ou 15 coletivos, como fizeram outros municípios brasileiros. Um veículo movido a energia limpa custa de três a quatro vezes mais do que um a diesel.
É bom lembrar que, na COP26, na Escócia, a prefeitura de Porto Alegre assumiu o compromisso de zerar emissões de carbono até 2050. É, também, papel da sociedade cobrar o cumprimento da promessa, e isso passa, necessariamente, pelo transporte, um dos maiores emissores de CO2 do planeta.
Testes em 2016
Em abril de 2016, também houve um teste com ônibus elétricos em Porto Alegre. A experiência envolveu um único veículo. Agora, a ideia é ampliar o escopo e permitir que tanto a população quanto os motoristas possam testar mais opções.