As imagens são tão chocantes quanto o silêncio cúmplice diante do horror revelado ao mundo na Terra Indígena Yanomami. Dói ver aquela gente virada em carne e osso, enferma, olhando os olhos da morte. As cenas registradas em Roraima escancaram um país doente, incapaz de se indignar com uma tragédia humanitária que deveria envergonhar qualquer brasileiro e brasileira. Como não vimos antes? Como fomos complacentes?
Causa espanto a reação de alguns, reduzindo a crise na Amazônia a oportunismo político e chamando de hipótricas aqueles que agora se espantam, no conforto de seus lares, a léguas de distância do coração da floresta.
Sim, aqui estamos a cinco mil quilômetros de Boa Vista, e temos, também, as nossas próprias chagas - basta olhar as esquinas das cidades para a ver a face da fome. Isso não nos impede de sentir empatia. As fotos machucam e comprovam aquilo que já sabíamos.
Os últimos quatro anos foram de descaso com a Amazônia, o nosso maior ativo nacional. Foram anos de conivência com o garimpo ilegal e com o enfraquecimento das políticas indigenistas. O desprezo do governo de Jair Bolsonaro pelos povos originários avançou a galope, encilhado em uma visão equivocada do “nós contra eles”, inclusive do ponto de vista da geopolítica e da macroeconomia.
Agora, como é que fica a imagem do Brasil lá fora? Temos - todos nós, inclusive setores que apoiaram a linha adotada na gestão anterior - muito a perder com isso, direta ou indiretamente.
A resposta do governo precisa ser dura e rápida. As suspeitas de crime ambiental e de genocídio devem ser investigadas com rigor. O Brasil tem de tirar essa história a limpo e compreender, de uma vez por todas, que, ao ferir a Amazônia e seus povos, acaba por lesar a si mesmo.