Em 1980, fiz para Zero Hora uma entrevista com Paulinho da Viola, onde ele contava como começou a entrar no mundo do samba, lembrando um episódio ocorrido em 1963 e que acabaria mudando sua vida: “Sempre fui muito de ouvir e acabei me tornando um espectador mesmo, aquela coisa de sentar e ficar curtindo aquilo que eu gostava. Não estava muito preocupado em aprender a tocar algum instrumento. Então, um dia, eu ainda servia ao Exército, assisti na televisão um debate sobre música popular. De um lado, Sérgio Porto com um grupo, de outro o Franco Paulino, um rapaz que escrevia sobre o assunto, acompanhado de um grupo ligado à bossa nova. Quem estava ao lado do Sérgio Porto, servindo de exemplo para o que estava sendo discutido, eram Nelson Cavaquinho, Zé Keti e Elton Medeiros. Uma coisa de bossa nova versus samba tradicional. Daí eu chamei papai, porque eu nunca tinha visto aquilo daquela forma. Fiquei entusiasmado ao ver Zé Keti cantando Diz Que Fui Por Aí, o Elton com aquela caixa de fósforo dele cantando O Sol Nascerá e Nelson com Luz Negra. Fiquei tão entusiasmado com aquilo que disse assim: ‘Olhe, papai, que coisa bonita essa forma de samba!’. Ele já havia percebido que eu estava muito interessado em música e já saía com alguns companheiros para cantar na casa de um e de outro ou então ficar num bar cantando”.
Alguns anos depois, Paulinho se tornaria um dos mais ilustres parceiros de Elton Medeiros, que acaba de morrer, aos 89 anos, no Rio de Janeiro. São deles, clássicos como Onde a Dor Não Tem Razão e Recomeçar. Como um dos mais jovens integrantes, Elton pertenceu a uma geração de grandes do samba ao lado de Cartola, Nelson Cavaquinho, Candeia, Carlos Cachaça, Nelson Sargento, Zé Keti. E foi uma espécie de ponte para uma geração que chegava, como lembra Paulinho na entrevista.
Era Elton o principal responsável pelas célebres rodas de samba no Zicartola, de 1963 a 1965. O Zicartola foi um bar e restaurante pertencente a Cartola e sua mulher, Dona Zica, que devido a essas rodas entrou para a história do samba. Paulinho era um dos jovens frequentadores que bebeu naquela fonte, estreitando a amizade com Elton – juntos, em 1966 lançariam o disco Samba na Madrugada.
Mas mesmo reconhecido e influente, melodista inspirado, cercado de parceiros como Cartola (em O Sol Nascerá, que está na trilha da novela Bom Sucesso, atualmente em cartaz) e Hermínio Bello de Carvalho, entre tantos, gravado por estrelas como Elis Regina e Nara Leão, Elton Medeiros sempre foi um low profile, muito na dele, gravou poucos discos, fez poucos shows, era mais de fazer do que de aparecer. Agora mesmo, quase ninguém se lembrava dele. Precisou morrer para que os meios de comunicação se dessem conta de sua estatura.