Uma das principais referências do samba carioca, Moacyr Luz completou 60 anos em abril e resolveu se dar de presente dois discos bem diferentes dos anteriores. Em Natureza e Fé, pela primeira vez não incluiu músicas com seus parceiros habituais, Paulo César Pinheiro, Hermínio Bello de Carvalho, Ney Lopes e Aldir Blanc (com quem tem mais de cem canções gravadas), abrindo parcerias com Fagner, Zélia Duncan, Pretinho da Serrinha e outros. Em Nego Alvaro Canta Sereno & Moa, fez a produção, entregando as interpretações das músicas, todas em parceria com Sereno (um dos fundadores do grupo Fundo de Quintal), ao percussionista e cantor Nego Alvaro, lançado por ele alguns anos atrás.
Décimo álbum solo de Moacyr, conhecido nas quebradas como Moa, Natureza e Fé difere também na instrumentação. "Usamos piano, violões, baixo acústico e bateria, eu queria ficar mais à vontade, fazer samba sem necessariamente usar instrumentos como surdo e tamborim", conta ele no material de divulgação. Também há cavaquinho, percussão e sopros, com grandes músicos. Entregou a produção e os arranjos a Fernando Merlino e Carlinhos 7 Cordas: "Decidi que ia só cantar". Todas as músicas são inéditas, o que não quer dizer que todas sejam novas, algumas ele tirou do baú, como o samba de gafieira Chapéu Panamá, feito com Mestre Trambique e Wilson das Neves, falecidos respectivamente em 2016 e 2017.
Outro detalhe do álbum é que Moa não assina somente as melodias, como ocorre com os letristas citados acima. Em alguns sambas, as letras são dele, e as melodias, de outros. E olha: que letrista! Seu timbre de voz inconfundível, meio arranhadinho, embala vários tipos de samba, do mais tradicional ao moderno. No Baile do Almeidinha, parceria com Hamilton de Holanda, é quase um samba-rock. Jorge da Cavalaria (com Serjão) tem um coro de 23 Jorges, número do santo guerreiro. Mas não dá pra separar faixas, todas são ótimas – e passam ao largo dos dramas do Rio. Você sai leve da audição. O disco tem participações especiais de Martinho da Vila, Jorge Aragão, Teresa Cristina, Fred Camacho, Fagner e Zélia Duncan.
Já Nego Alvaro canta Sereno & Moa tem uma estrutura diferente, a partir da instrumentação básica de violões, cavaquinho e forte percussão – Sereno toca tantan na maioria dos arranjos. Som Brasil, a faixa de abertura, é um maracatu. Mariazinha, a seguir, tem um tempero caribenho. No mais, é samba mesmo, altamente dançante, como Zum-Zum Besouro e Um Outro Mar, ambas com letras de espírito meio folclórico. Revelado em 2010 no famoso projeto Samba do Trabalhador (criado por Moacyr Luz), o carismático Nego Alvaro era percussionista. Três anos depois, gravando uma canção de Moa, começou a cantar. O primeiro disco veio em 2016. Com uma voz forte e expressiva, ele é mesmo uma revelação.
NATUREZA E FÉ
- De Moacyr Luz. Biscoito Fino, R$ 30
NEGO ALVARO CANTA SERENO & MOA
- De Nego Álvaro. Biscoito Fino,R$ 30
ANTENA
RIO ALEGRE, de Joca Perpignan
Autor de vários clássicos do samba, Delcio Carvalho assina todas as letras inéditas deste terceiro álbum do percussionista, cantor e compositor carioca Joca Perpignan, primeiro só de sambas – trabalhavam no material quando Delcio morreu, em 2013. Produzido pelo músico Alceu Maia, o disco, avalia o crítico Tárik de Souza, "tem um repertório pulsante, de raro frescor". Formado em Berklee, mais de 20 anos de carreira, Joca tocou com Paquito D'Rivera, Anat Cohen e João Donato, entre outros. Vive atualmente em Israel. É compositor desenvolto no estilo que lembra Paulinho da Viola e João Nogueira, bom cantor de voz grave. Rio Alegre tem instrumentação tradicional do samba, músicos do primeiro time e participações de João Cavalcanti, Ana Costa, Thania Machado e Áurea Martins. Na faixa-título ouve-se a voz de Delcio. Biscoito Fino, R$ 28.
QINHO CANTA MARINA, de Qinho
Quando entra a primeira faixa do disco, À Francesa (Claudio Zoli/Antonio Cicero), você se pergunta: opa, Marina é convidada especial? Porque a bela voz de Qinho, que manteve os tons e o clima da gravação original, ficou muito parecida com a dela. E é assim até o fim do álbum. Os arranjos de base eletrônica atualizam os sucessos de Marina sem descaracterizá-los. O carioca Qinho é personagem da nova cena pop brasileira, já tendo colaborado com Adriana Calcanhotto, Fernanda Abreu, Tulipa Ruiz e Marcelo Jeneci. De 2004 a 2009 liderou a banda VulgoQinho&OsCara, depois lançou dois discos solo – este é o terceiro, que tem sua guitarra ao lado dos parceiros Gui Marques e Carlos Sales. Outras faixas: Nada Por Mim, Me Chama, Uma Noite e Meia, Fullgás, Virgem, Charme do Mundo. Biscoito Fino, R$ 30.
DOM, de Zé Canuto
Quem gosta de música brasileira boa tem 100% de chance de ter ouvido o sax do fluminense Zé Canuto. Em 30 anos de carreira, ele tocou e/ou gravou com Gal, Caetano, Fafá, Lenine, Rita Lee, Titãs, Marina, Ed Motta, Marcos Valle, Emílio Santiago etc. etc. etc. Neste segundo disco solo, faz uma viagem pelo repertório de Roberto e Erasmo ao lado de músicos como Cristóvão Bastos, João Lyra, Claudio Infante e outros. Não é fácil gravar o Rei, que raramente libera suas canções. Ele conseguiu! É, obviamente, um álbum romântico, tipo "música para uma tarde chuvosa", com o sax sempre em primeiríssimo plano. Tem de Rotina (1973) a Todos Estão Surdos (1994), passando por Café da Manhã, Lady Laura, Amante à Moda Antiga, Eu Preciso de Você, As Flores do Jardim de Nossa Casa... Independente, R$ 20 em www.profranloja.com.br.