FLORES & CORES
De Guilherme Arantes Selo Coaxo de Sapo, R$ 24,90. Disponível nas plataformas digitais.
Em 2016, Guilherme Arantes comemorou 40 anos de carreira lançando uma caixa com reedições de 21 discos. No processo de produção, mergulhou em seus guardados (fitas, rascunhos de letras etc.) e uma antiga emoção veio à tona. É ela que move Flores & Cores, novo álbum de canções inéditas (o anterior é de 2013), que se liga à juventude de forma vigorosa. Para começar a viagem do tipo "amarcord", amar-recordar, Guilherme reprocessou três músicas que restavam escondidas e as ligou ao seu período de grande sucesso, os anos 1980. A partir daí, conta ele, surgem as novas canções. O disco tem dois encartes, um com as letras e a ficha técnica e outro, de 12 páginas, com um longo texto em caligrafia própria em que ele registra o processo de composição e gravação das músicas, enquanto faz comentários biográficos.
Ensolarado, pautado pelos teclados (do piano Steinway ao sintetizador Moog), mas com boa presença de guitarras (Luiz Carlini) e violões, Flores & Cores faz uma incursão pelo estilo notório do compositor paulista, desde o início dos 2000 radicado na Bahia. Grande melodista, com canções que às vezes parecem hinos, ele alterna pop-rocks com baladas certeiras e interpretações inconfundíveis, letras entre o romântico e o místico. A balada Meu Jardim do Éden, "a mais velha que eu já fiz" (1969), mostra que valeu o resgate. Numa Onda (Nada no Mar), sobre a vida na Bahia, é pop com samba, A Simplicidade É Feliz tem o sax de Leo Gandelman, e Mais Raro Tesouro, talvez a minha preferida, faz com um corpo de violões uma mescla latina e gitana. Guilherme Arantes é um clássico do pop brasileiro.
O TROCO DE TAIGUARA
De Trio D Favetti e Guego Favetti. Kuarup, CD R$ 22, disponível nas plataformas digitais.
Irmãos gaúchos radicados no Paraná, Tita, Titi e Guego Favetti formam um afiado trio vocal com duas vozes masculinas e uma feminina. Ao conhecer o grupo em Curitiba, o empresário e educador paulista Roberto Adami Tranjan decidiu propor aos Favetti a realização de um projeto que tinha em mente: a gravação de um disco com canções de uma de suas maiores admirações, Taiguara – que julga pouco lembrado hoje. Abatido por um câncer aos 51 anos, em 1996, Taiguara fez grande sucesso entre os anos 1960 e 70, teve muitas músicas censuradas e passou anos no exílio. Tranjan e o trio selecionaram 14 músicas, sendo sete do LP Piano e Viola (1972), como O Troco, Rua dos Ingleses e Luzes. A mais antiga é Hoje (1969) e a mais recente, Menino da Silva (1994). Entre as outras estão O Velho e o Novo (1970, homenagem ao pai, o bandoneonista gaúcho Ubirajara Silva), Que as Crianças Cantem Livres (1973), Estrela Vermelha (1983) e o clássico paraguaio Índia (versão feita por Taiguara em 1983, diferente da que ficou conhecida). O repertório equilibra as temáticas romântica e política que marcam a obra do compositor. O desempenho do trio é muito bom e o dos músicos também, tendo à frente Constant Papineanu (teclados), Paulo Ribeiro (violão) e Pedro Baldanza (baixo).
MERECIMENTO
De Tuny Brum. Contatos no Facebook de Tuny.
Vencedor e melhor intérprete da 27ª Tafona da Canção Nativa, cuja final foi realizada domingo passado em Osório, o santa-mariense Tuny Brum é um dos nomes históricos do movimento nativista, com mais de 30 vitórias em 30 anos de atuação nos festivais, fora os tantos troféus secundários. Curiosamente, a música da Tafona foi considerada "campeira", embora esse não seja o estilo de Tuny, mais afeito ao que se considera projeção folclórica – neste novo disco solo, segundo da carreira, saindo 10 anos depois do anterior (Andarilho Coração, 2007), quase todas as músicas andam nesse sentido. Produzido por ele, com arranjos dele e de Ricardo Freire, o álbum reúne 10 canções feitas ao longo do tempo com vários parceiros, em maioria milongas. A faixa-título, parceria com o mano Vinicius Brum e participação de Luiz Carlos Borges, abre o disco de belas letras dizendo a que veio: "Quero cantar quem merece/ Gente, bicho, vento e rio/ Coisa que tenha 'valença'/ De se fazer elogio". Destacam-se Meus Medos (com Sílvio Genro), Aluamento (Vaine Darde), Uns e Outros (Carlos Omar Villela Gomes), Silenciosamente (também com Vinicius) e Mate (Antônio Augusto Ferreira). Além de cantar muito, Tuny toca um violão de respeito. Entre os músicos, Felipe Karan (violino), Elias Resende (acordeão), Alexandre Takahama (flauta) e Sandro Cartier (percussão).