
Está em discussão mais uma vez uma questão que teria levantado um senhor escândalo se os papéis dos atores fossem outros — ou seja, se os bandidos fossem as vítimas e os mocinhos fossem os carrascos. O problema é uma pergunta que o regime brasileiro não apenas não responde, como não admite sequer que seja feita: houve interferência a favor de Lula e contra Bolsonaro, inclusive do Deep State americano, na eleição presidencial de 2022?
É evidente que houve, e, justamente por ter havido, a discussão a respeito foi proibida, criminalizada e punida pelo STF, a Polícia Federal e os seus sistemas de apoio na política, na mídia e na elite em geral. Pode não ter havido nos porões do governo do presidente Joe Biden, mas houve na sala de visitas do consórcio Lula-STF — e é isso, naturalmente, que deveria ter sido desde o começo o verdadeiro problema.
Numa democracia normal, suspeitas de jogo sujo nas eleições já seriam mais do que suficientes para provocar um terremoto — havendo ou não interferência de governo estrangeiro. Mas o Brasil não é uma democracia, e nem um país normal. Tem sido óbvio, desde o começo, que a eleição para presidente em 2022 foi tudo, menos um processo normal. O STF tirou da cadeia, sem apresentar nenhum motivo racional e sem qualquer processo judicial de absolvição, um condenado por corrupção passiva. Aboliu, no seu caso específico, a Lei da Ficha Limpa que impedia sua candidatura. Fez o Congresso abolir a lei que criava o comprovante de voto nas urnas do TSE. Censurou notícias que incomodavam Lula e o PT durante a campanha.
O tempo dirá o que o Deep State pode ter a ver com a história
O STF, via a sua milícia eleitoral do TSE, impediu que a campanha de Bolsonaro mostrasse imagens da multidão que foi lhe prestar apoio na festa do Sete de Setembro em Brasília. Perseguiu judicialmente adversários dos candidatos de esquerda. Foi parcial no controle da propaganda eleitoral. No dia da apuração, a horas tantas, declarou que Lula tinha ganhado. Foi proibido o exame de qualquer número. Depois, para fechar a coisa pelos sete lados, decidiram que Bolsonaro não pode disputar eleições até 2030 — embora não tenha sido condenado por nenhum tipo de crime previsto na legislação brasileira.
A cada vez que se aponta qualquer fato desses, a atitude automática da mídia é dizer: "Sem provas". Não tente pedir esclarecimentos sobre a eleição de Lula — vão lhe acusar de "golpe", "ataque ao STF", acusação "sem provas", o diabo. O tempo dirá o que o Deep State pode ter a ver com a história toda. Enquanto isso, o problema real continua sendo o State brasileiro mesmo — esse que está aí todo dia, e que você conhece tão bem.