Jair Bolsonaro se elegeu com maciço apoio de militares, tanto das Forças Armadas como das PMs. Era visto como única opção a mais de uma década de governos do PT. A escolha também foi alimentada pelo histórico anticomunismo que vigora na caserna verde-amarela e pelo ressentimento de muitos fardados pelo fato de a esquerda lembrar crimes que lhes são atribuídos nas perseguições a civis durante o regime militar (1964-1985).
Passados mais de dois anos de governo, a relação de muitos militares notórios com Bolsonaro apresenta fissuras. Graduados das Forças Armadas, da reserva e até da ativa, têm pregado uma saída política ao centro. O mais conhecido é o general gaúcho Carlos Alberto dos Santos Cruz, reservista que foi comandante da maior Missão de Paz já organizada pela ONU (chefiou 29 mil militares no Congo). Ele se filiou na semana passada ao Podemos, partido integrado pelo ex-juiz Sergio Moro e ainda não sabe a que vai concorrer. Há quem fale em vice-Presidência, mas o mais provável é que essa vaga seja destinada a algum partido aliado, numa composição para tentar alcançar o Palácio do Planalto.
Santos Cruz foi apoiador e um dos mais importantes ministros de Bolsonaro, até ser demitido por se negar a colaborar com indicações políticas dos filhos do presidente. Virou adversário figadal. Agora participa de um grupo de WhatsApp, o “3V”, integrado por conhecidos militares. Como o nome indica, são as iniciais de 3ª Via.
Santos Cruz até que é moderado em seus comentários. Costuma dizer que “um grupo se perdeu na corrupção, o outro não sabe governar”, em referência aos petistas e bolsonaristas. Já outro integrante do 3V, o general da reserva Paulo Chagas, é mais ácido. Na última eleição ele fez 110 mil votos para governador do Distrito Federal (não se elegeu) e apoiou Bolsonaro a presidente. Numa de suas manifestações, falou de seu ex-aliado:
— Há quem diga que não devo criticar o Presidente Bolsonaro porque não temos outro capaz de liderar a direita. Ora, se entre 200 milhões de brasileiros só encontramos um narcisista deslumbrado, trapalhão e que não cumpre o que promete para nos liderar, é porque a direita não está preparada para mudar o Brasil.
Outro integrante do 3V é o general Guilherme Theophilo, que foi secretário nacional de Segurança Pública (governo Bolsonaro) e concorreu ao governo do Ceará pelo PSDB. Agora está filiado ao Podemos, de Moro.
Moro e Santos Cruz também almoçaram com o general Otávio Rego Barros, que foi porta-voz de Bolsonaro no início de governo e se tornou um ácido crítico do ex-chefe. Por fim, a lista de notórios das Forças Armadas que é assediado pelos seguidores de Moro é o ex-secretário de Assuntos Estratégicos do governo Bolsonaro, general Maynard de Santa Rosa, hoje também crítico do governo.
É um time com capacidade de influenciar votos dentro e fora dos quartéis.