Falei com alguns policiais experientes e com integrantes do próprio governo estadual. Não há quem não fique surpreso pela escolha de Cezar Schirmer para o cargo de secretário da Segurança Pública.O problema não é a pessoa dele, um político afável, tarimbado e de excelente trato. O problema é que, como disse o filósofo Ortega y Gasset, "o homem é o homem e sua circunstância".
E qual a circunstância que ronda Schirmer há três anos? A de um administrador encurralado por uma assombração, a morte de 242 pessoas na boate Kiss, em Santa Maria, a cidade da qual ele é prefeito. Nesses mais de 900 dias, Schirmer evitou como pôde dar entrevistas a respeito dessa que é a maior tragédia da história gaúcha. Poderia ter se comunicado mais. Preferiu o silêncio contido.
Schirmer até foi isentado de responsabilidade pela Justiça, mas permanece na memória dos santa-marienses – notadamente, dos familiares de vítimas da Kiss – como chefe de fiscais que autorizaram a boate a funcionar. Durante anos, aquela danceteria, um prédio em forma de caixote com uma só saída, permaneceu aberta, mesmo diante de problemas que representavam risco de incêndio. Até que a tragédia se consumou.
Leia mais:
Pedido arquivamento de investigação sobre Schirmer
Protesto contra possível indicação de Schirmer para o TCE
Familiares de vítimas recorrem à OEA no caso Kiss
Schirmer tem culpa? Talvez não, mas o desgaste foi tão grande, que o PMDB, seu partido, não colocou candidato a prefeito nas próximas eleições.É possível que tenham se lembrado de Schirmer porque, fragilizado politicamente, cairia bem dar uma secretaria a um soldado histórico do PMDB, como ele. Mas logo a Segurança? Será o chefe do Corpo de Bombeiros, outra corporação que saiu chamuscada pelo incêndio que consumiu a Kiss.
Schirmer sempre foi coringa no PMDB. Já foi secretário estadual da Agricultura, mesmo sem dominar o assunto. Talvez a ideia do governador José Ivo Sartori seja testar a versatilidade de Schirmer em outra pasta. Mas logo uma em que o secretário tem de dar explicações a cada morte de cidadão inocente? Pegou mal.