Entre as expectativas de efeitos positivos e a preocupação com pontos de atenção, o agronegócio brasileiro aguarda a efetiva assinatura do acordo Mercosul-União Europeia (UE). A postura de que é preciso primeiro ver para depois crer na concretização anunciada nesta sexta-feira (6) vem do histórico das tratativas.
— Meu primeiro ponto é que devemos ter moderação nas expectativas porque já criamos em outras oportunidades e terminaram frustradas. Já faz mais de 20 anos que estamos desenhando esse negócio, e não aconteceu até agora — pontua Antônio da Luz, economista-chefe da Federação da Agricultura do Estado (Farsul).
O episódio mais recente foi em 2019, quando o acordo era dado como certo e acabou não saindo, razão da cautela neste momento. E também porque há resistência de países europeus, como a França, ao acerto. Dito isso, Luz avalia:
— Fazer um acordo como esse pode nos ensinar a beleza e a grandeza de acordos de livre comércio. Em um primeiro momento, temos de pensar nos interesses do Brasil. Depois, olhar para os segmentos que podem ser mais prejudicados e pensar em salvaguardas e no estado da arte da produção deles hoje.
Entre os segmentos que manifestam preocupação estão o de leite e derivados e o de vinhos.
— É preciso garantir que medidas unilaterais protecionistas não prejudiquem o que foi negociado ao longo desses anos — acrescentou Sueme Mori, diretora de Relações Internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), lembrando do recente episódio das declarações do CEO do Carrefour sobre a carne do Mercosul.
A indústria de proteína animal é uma das veem a perspectiva de incremento dos negócios com a UE a partir do acordo. A razão está na ampliação da cota de carne de frango que poderá entrar no bloco com tarifa zerada. E na de suína com taxação de 0,83 centavos de euros. As cotas deverão ser atingidas ao longo de seis anos, esclareceu, em nota, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).
— A consolidação do acordo abre novas oportunidades de embarques para o mercado europeu, em condições mais vantajosas do que as cotas atualmente existentes para embarques de produtos brasileiros à UE. As atuais serão mantidas, e as novas estabelecidas pelo acordo deverão ser ocupadas, em especial, pelas exportações de produtos brasileiros — disse Ricardo Santin, presidente da entidade.
Entre janeiro e novembro deste ano, o Brasil exportou 205 mil toneladas de carne de frango para o bloco, somando receitas de US$ 749,2 milhões. Os números fazem da UE o oitavo principal destino dessa proteína brasileira.