Depois de um verão de La Niña, com falta de chuva e perdas à produção, é a virada do tempo no Rio Grande do Sul que chama a atenção. O inverno traz a perspectiva de El Niño, com volume de precipitações acima da média e alerta para possíveis efeitos negativos do excesso de umidade. Nesse cenário, pode até parecer contraditório falar sobre irrigação, mas não é. Pelo contrário. O sistema capaz de ampliar a proteção às lavouras em meio ao clima seco requer planejamento e pede a busca por soluções para desafios em sua implementação. Tema que ganhará espaço nos debates do Pampa em Evolução, evento que ocorre desta terça-feira (13) até o sábado (17) em Dom Pedrito, na Campanha.
Na programação desenvolvida no parque da Associação e Sindicato Rural de Dom Pedrito, estão atividade como a reunião técnica com representantes da Secretaria do Meio Ambiente sobre questões específicas da bacia do Rio Santa Maria (que percorre seis municípios da região: Rosário do Sul, Cacequi, Santana do Livramento, Dom Pedrito, São Gabriel e Lavras do Sul). Presidente do comitê e coordenador do Polo de Irrigação, o engenheiro agrônomo Gerson Rodrigues Ferreira explica que um dos maiores desafios é conceitual. A definição do que são cursos d'água efêmeros ou intermitentes é considerada crucial para que possa ser feita a regularização dos reservatórios existentes e para a colocação de novos. Muitas vezes, há divergências de interpretação com o órgão licenciador:
— Precisamos ter uma metodologia a campo que seja definitiva. É um dos maiores desafios porque disso depende a instrução dos processos de regularização de reservatórios.
Na bacia do Rio Santa Maria, são contabilizados 1,2 mil reservatórios de água. Na região, a média anual de chuva fica entre 1,3 mil e 1,4 mil milímetros. O problema, acrescenta Ferreira, é que esse volume costuma ficar concentrado no inverno. Usualmente, entre novembro e janeiro, há déficit hídrico, razão pela qual se aponta a necessidade de investir em reserva de água e irrigação. Há nove safras com o sistema de irrigação na propriedade da família, em Aceguá, Felipe Sangalli Dias testemunha a importância do uso da ferramenta frente a esse cenário: via de regra, a média de produtividade da soja tem sido de 70 sacas por hectare — quando a estadual é em torno de 50 sacas.
— Quando tu ainda não é irrigante, tem milhares de dificuldades, desde o custo dos equipamentos, até montagem dele. Hoje, há nove safras irrigando, só vejo uma dificuldade: a reserva de água — observa Dias, que é engenheiro agrônomo e também tem um trabalho de consultoria na área.
O coordenador do Polo de Irrigação de Dom Pedrito (o primeiro do gênero, criado em 2020 via Ministério do Desenvolvimento Regional) destaca a necessidade de que se considere o uso do sistema como sendo de interesse social:
— Tanto se fala em pressão ambiental. Mas com a irrigação tu diminui a área em conversão. E dobra ou triplica a produção e por que isso não é considerado interesse social — questiona.
Com ações de curto, médio e longo prazo, a normativa com os conceitos de cursos d'água, em elaboração pelo Departamento de Recursos Hídricos, da Secretaria Estadual do Meio Ambiente, é esperada para este ano — a projeção era de que saísse nos primeiros meses de 2023.
Os Desafios da Irrigação no Estado serão tema também de um Campo em Debate, que será realizado no sábado, dia 17, a partir das 10h15, com a presença da secretária do Meio Ambiente e Infraestrutura do Estado, Marjorie Kauffmann, e do diretor vice-presidente da Farsul, Domingos Antônio Velho Lopes, com transmissão em GZH.