Ainda não é a notícia que o Brasil esperava, mas a sinalização de que a China vai autorizar a entrada de carne bovina brasileira em trânsito, certificada até 3 de setembro, reacende as expectativas de que o fim da suspensão das exportações possa estar perto. O volume já despachado e em estoque, ou seja, que está apto a ser liberado, é levantado com precisão pela Associação Brasileira de Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec). Dado preliminar aponta que são cerca de 40 mil toneladas, observa Júlio Barcellos, coordenador do Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (Nespro)/UFRGS. Mas há estimativas que falam em até 100 mil toneladas.
O fato é que a quantidade em si, neste momento, é o que menos importa. É o movimento feito pelos chineses, a partir de ingredientes novos, que torna a decisão importante. Barcellos observa que a importação de produto brasileiro pela Rússia — que recentemente sinalizou a importação de 300 mil toneladas — pode ter sido um dos gatilhos:
—Devem liberar em breve. A entrada dos russos apressou o processo.
— É um sinal de que a coisa tende a se normalizar em um curto espaço de tempo — reforça Ronei Lauxen, presidente do Sindicato das Indústrias de Carnes do Estado (Sicadergs).
O Rio Grande do Sul tem três unidades frigoríficas, todas da Marfrig (Alegrete, Bagé e São Gabriel) aptas a exportar à China. E tem uma fatia nesse volume que agora será autorizado a entrar.
— É uma boa notícia para quem tinha contêiner parado em porto, ou que estava fazendo interporto, saindo de um porto ao outro, esperando para ver o que ia acontecer — pontua Lygia Pimental, fundadora e diretora executiva da Agrifatto, consultoria especializada em pecuária de corte, que estima em 100 mil toneladas o volume que entra nessa liberação.
A suspensão das exportações de carne bovina brasileira se arrasta desde 4 de setembro quando o Brasil comunicou o registro de dois casos atípicos de encefalopatia espongiforme bovina (popularmente conhecida como doença da vaca louca). Os chineses são os maiores compradores da proteína produzida pelo Brasil.
Em nota (veja abaixo a íntegra), o Ministério da Agricultura confirmou o recebimento do comunicado chinês da liberação de produtos certificados até o dia 3 de setembro.
NOTA DO MINISTÉRIO DA AGRICULTURA DO BRASIL
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) confirma o recebimento de comunicado da Administração Geral de Alfândegas da China (GACC, em inglês) de que as cargas de carne bovina que receberam a certificação sanitária até o dia 3 de setembro de 2021 poderão ser internalizadas na China.
A ministra Tereza Cristina considera que a liberação desses lotes pela GACC representa um avanço rumo à retomada das exportações regulares para a China.