Foi com a casa cheia que o governo federal anunciou nesta terça-feira o Plano Safra da agricultura familiar. Para a plateia, movimentos sociais e entidades que se mantêm como um dos redutos de apoio à presidente Dilma Rousseff, o discurso agradou. O pacote atendeu às demandas dos pequenos produtores – inclusive a diminuição de juro, na contramão do restante da economia.
O volume de recursos foi ampliado para R$ 30 bilhões. A taxa cobrada nas linhas de financiamentos voltadas à produção de alimentos que compõem a cesta básica, no modelo orgânico e agroecológico e para investimentos em práticas sustentáveis foram reduzidas dos atuais 5,5% para 2,5%.
Outras medidas, como dinheiro para o programa de aquisição de alimentos e a implementação, enfim, da Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater), com direito a orçamento e diretoria composta, também entraram no pacote.
As regras de financiamentos são política de Estado e, por isso, em tese, perenes. Mas algumas metas, classificadas pelo ministro do Desenvolvimento Agrário (MDA), Patrus Ananias, como ousadas, poderão ficar pelo caminho.
Com o eventual afastamento da presidente, nem mesmo a permanência da pasta está garantida. Pelo contrário. Ganham força os rumores de que o MDA será extinto. Ananias, que deixou a pasta temporariamente para votar contra o impedimento de Dilma na Câmara, aproveitou o momento do anúncio para criticar a situação política vivida pelo país:
– Há uma tentativa de golpe contra as políticas públicas sociais implementadas nos últimos anos.
Por diversas vezes, o anúncio foi interrompido por palavras de ordem, como "não vai ter golpe" e manifestações de apoio.
– Os camponeses têm um lado, e esse lado é o da democracia. Impeachment sem crime é golpe – bradou Anderson Amaro, da coordenação do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA).
Justamente pelo delicado momento político vivido no país é que os rumos da agricultura familiar poderão ficar diferentes dos planos apresentados. Até porque, jogou-se muito para agradar a torcida.