O mercado não é um ser único, com o qual se marca uma reunião para discutir o que ele faz. Ele é formado por uma série de investidores, sejam as próprias pessoas físicas ou as instituições financeiras que fazem a gestão do dinheiro delas. Quando um deles compra uma ação de uma companhia, como a Petrobras, um título de governo, uma debênture ou qualquer outra aplicação financeira, espera um retorno financeiro. Ele pode ser para aumentar a fortuna de um bilionário sim, mas também pode ser o dinheiro que a família está guardando para o intercâmbio do filho ou a aposentadoria planejada pelo cidadão que tem as finanças organizadas.
A "choradeira" que o presidente Lula disse que o mercado fez quando as ações da Petrobras despencaram foi simplesmente um investidor ter vendido a ação e outro estar com receio de comprar. Aí, a cotação cai. O investidor está errado? Claro que não, ele quer o retorno esperado ou leva seu dinheiro para outra aplicação. Além de não ter distribuído entre acionistas o lucro que se esperava, a Petrobras tem no seu rastro a desconfiança de que terá influência partidária em decisões de negócios e que os escândalos de corrupção possam se repetir.
Ou seja, como qualquer empresa, ela e o governo — seu maior acionista — precisam, sem choradeira, convencer os demais de que vale a pena eles deixarem o dinheiro ali. O investidor é contrário à petroleira investir em energia limpa, dentro da transição energética, como a estatal tem anunciado? Claro que não. Seria ótimo! Porém, ela precisa ser transparente e mostrar que continuará sendo uma empresa viável com esses investimentos, que os fará de forma eficiente e trazendo retornos.
Se conseguir isso, recuperará o preço das ações mesmo sem pagar os dividendos extraordinários, cuja suspensão frustrou investidores na semana passada, que voltaram a se animar nesta terça-feira (12) com a possibilidade de mudança de decisão em favor do pagamento. Se não conseguir, terá que distribuí-los ou aceitar que vai perder investidores, com seu consequente impacto de alta do dólar, elevação da inflação e trava do juro. É isso, sem choradeira.
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Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Com Vitor Netto (vitor.netto@rdgaucha.com.br e Guilherme Gonçalves (guilherme.goncalves@zerohora.com.br)
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