O aumento de 50% do gás natural definido pela Petrobras tem preocupado indústrias, empresas e pessoas que usam o gás natural veicular (GNV) em seus veículos. Aqui no Rio Grande do Sul, o repasse ficará abaixo dos 40%, ainda um aumento forte. O programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, entrevistou o presidente da Companhia de Gás do Estado do Rio Grande do Sul (Sulgás), Carlos Camargo de Cólon, para saber mais sobre o repasse. Confira:
O senhor já tem uma ideia de qual vai ser o percentual repassado para o consumidor no Rio Grande do Sul?
Nós recebemos o aumento da Petrobras, que vem para mais ou menos metade do nosso suprimento. A quantidade que vai ser repassada no preço final vai ser abaixo disso. Esse número de 50%, eu sei, assusta muito quando atinge o noticiário, mas o número de fato vai ser menor. Eu não tenho o número exato para compartilhar ainda porque agora nós temos a Agergs, o nosso órgão regulador, revisando todos os números, e deve se pronunciar em breve. Espero que até em algum momento da semana que vem.
Nós temos estimativa para os setores? Nós entrevistamos o coordenador da área de energia da Fiergs, Edilson Deitos, e ele projetou que, para indústria, pode ficar entre 22% e 29%. Por outro lado, quem usa gás natural veicular está muito preocupado, porque por mais que seja bem menor do que os 50% da Petrobras repassados a vocês, ainda é um baque muito forte, ainda mais pra muitos que acabaram de instalar o equipamento de GNV nos seus veículos. Nós temos como dar para essas pessoas uma estimativa de quanto vai ser a elevação?
Eu não posso realmente me antecipar à decisão da Agergs. Mas o preço do gás natural vai continuar sendo competitivo comparado com a gasolina, que é o produto alternativo dos motoristas. Vai continuar sendo competitivo e creio que, apesar de mais caro, vai ser uma opção muito atrativa para os motoristas ainda.
O que muda na Sulgás com a privatização?
Olha, não vai mudar nada. O que mudou foi um acionista da Sulgás. Claro que eu não tiro a importância do acionista Estado está saindo. Mas o que o que mudou foi um acionista. A empresa continua com nosso mesmo plano de investimento, com nossas mesmas políticas, com as nossas mesmas estratégias, nossos mesmos objetivos de entregar gás para nossos clientes. O que encontramos agora é com o um investidor, um acionista forte do setor privado, que vai combinar as melhores práticas que temos aqui na Sulgás com o que eles trazem da experiência deles em São Paulo, e o que eu espero é que a gente consiga ser uma Sulgás melhor ainda do que ela é hoje.
Quais são as previsões de investimentos que vocês tem pros próximos anos?
Para os próximos cinco anos, nosso último plano de investimentos está ao redor de uns R$ 300 milhões. Esse número varia. Todo o ano, fazemos uma atualização. Eu diria entre R$ 50 milhões e R$ 60 milhões para 2022.
Durante a transmissão do controle da Sulgás pelo governo do Estado para Compass, ficou em aberto que, se houver novas fontes de gás, esse volume de investimento poderia aumentar. O secretário chefe da casa civil, Arthur Lemos, tem falado sobre outras alternativas para trazer gás, como o projeto do Grupo Cobra em Rio Grande e as negociações com a Argentina. Como está esse andamento para novas fontes de gás?
Esse realmente é o pulo do gato. Para a gente poder aumentar significativamente o nosso nível de investimentos sem ter um impacto pesado na tarifa, a chave é trazer mais gás aqui para o Estado. Hoje, como vocês sabem, a gente tem uma limitação física de entrega no trecho sul do Gasbol. São vários projetos, mas o mais tradicional e antigo seria aumentar a capacidade do Gasbol. É um processo lento, mas o mais fácil de fazer. Tem outros projetos interessantes. Claro que, se a gente puder criar um terminal de regaseificação no porto do Rio Grande, seria muito interessante. Aí, você tem uma um volume de gás grande entrando pelo sul do Estado, vindo abastecer não só a região do Rio Grande, mas também a Grande Porto Alegre, podendo acionar a termoelétrica de Canoas. Hoje, ele não usa gás porque não tem. E claro que, se entrasse gás pelo Rio Grande, e subisse para Porto Alegre, poderia ser injetado no final do Gasbol que chega aqui no Rio Grande do Sul e subir para o resto do Brasil. Então essa seria uma uma opção muito interessante. Estamos estudando e abertos a parcerias com grupos que queiram fazer esse investimento.
A Âmbar, que comprou recentemente a térmica de Uruguaiana e a colocou para funcionar, manifestou interesse de, além da térmica e de parques solares de geração solar em Uruguaiana, também participar da construção de um gasoduto vindo até Porto Alegre. E a Compass, que assumiu a Sulgás, entraria junto nesse investimento que seria bem grande aqui no Estado. A Sulgás participaria?
Olha, se tiver gás para gente fazer esse projeto, seria muito interessante. Esse gasoduto é da TSB, então ele já existe em dois pequenininhos trechos, um em Uruguaiana, outro aqui em Canoas, pouca coisa, quinze quilômetros em cada um desses trechos. O projeto já existe. A dificuldade tem sido o acesso a gás natural. Âmbar tem conseguido despachar a usina de Uruguaiana esse último mês de dezembro a carga total, consumindo bastante gás que eles estão trazendo da Argentina. Eu tiro o chapéu para eles. Acho que é excelente essa notícia. Havia muito tempo que não se despachava Uruguaiana, mas, claro, para sustentabilidade do despacho daquela usina e desenvolver mais aquela região e a ligação com Porto Alegre, a gente precisa de uma fonte de gás mais sustentável, que pode ser, realmente, aquele projeto que a gente falou mais cedo. Se chegar muito gás para Porto Alegre, poderia estender o gasoduto para Uruguaiana, porque sabemos que tem um cliente que consome bastante e justificaria esse investimento.
Eu vou voltar à questão do GNV. O setor tem a preocupação de manter a viabilidade econômica. Vocês não têm um teto, pelo menos, para informar de quanto poderia ser esse repasse do aumento da Petrobras?
Realmente, eu queria respeitar a decisão da Agergs antes de comunicar isso. Mas uma coisa eu posso dizer, vai continuar a ser competitivo contra a gasolina. Os motoristas, apesar de ser mais caro, ainda vão estar incentivados a usar o GNV quando comparado com as alternativas existentes.
Para fechar, se mantém a diretoria, se mantém a equipe mesmo com a Compass assumindo a Sulgás assumindo agora?
Bem, eu vou ficar, me convidaram para ficar como diretor-presidente e para fazer essa transição de empresa do setor público para o privado. Nos recentemente promovemos, internamente o diretor técnico comercial, Charles Neto, que vai ser o nosso o novo DPC. É a primeira vez que o DPC é um, como se diz, prata da casa. Então, eu estou muito contente com esse resultado. E vamos ter um novo diretor financeiro, o Marcelo Leite, que vem do grupo Compass para trabalhar com a gente.
Ouça a entrevista em áudio:
Coluna Giane Guerra (giane.guerra@rdgaucha.com.br)
Colaborou Daniel Giussani (daniel.giussani@zerohora.com.br)
Leia aqui outras notícias da colunista
Experimente um jeito mais prático de se informar: tenha o aplicativo de GZH no seu celular. Com ele, você vai ter acesso rápido a todos os nossos conteúdos sempre que quiser. É simples e super intuitivo, do jeito que você gosta.
Baixe grátis na loja de aplicativos do seu aparelho: App Store para modelos iOS e Google Play para modelos Android.