
As ações da Petrobras despencaram mais de 8% nesta sexta-feira (12) após o recuo no preço do diesel por determinação do presidente Jair Bolsonaro. A interferência política na estatal sempre foi mal vista pelo mercado financeiro. Foi ainda pior por ter pego o investidor de surpresa, que não esperava a medida de um governo com agenda liberal.
Mas o leitor da coluna Acerto de Contas já sabe da máxima do mercado: "comprar na baixa e vender na alta." Então, tem gente que viu oportunidade na desvalorização dos papéis da Petrobras. O grande desafio é saber se o preço ainda vai cair mais e quando voltará a subir, o que ocorrerá em algum momento. E ter sangue frio de "sentar" no investimento até que a ação se valorize.
Lançamos a pergunta "É hora de comprar ações da Petrobras?" para operadores do mercado financeiro que acompanharam a movimentação nessa sexta-feira tensa. Veja as respostas:
Sócio da gestora de fundos Quantitas, Wagner Salaverry:
"Aspectos positivos que justificam a compra das ações: forte crescimento da produção de petróleo pela Petrobras em um mundo em que poucas empresas conseguem explorar novos campos de produção, o que eleva receita. A empresa está vendendo ativos que ajudarão na redução de dívidas e riscos, enquanto suas pares petroleiras trabalham com poucas dívidas. Crescimento das reservas de petróleo: o recém anunciado acerto com o Governo Federal dos valores de ajuste da cessão onerosa permitirá que a Petrobras receba cerca de US$ 9 bilhões como reparação por investimentos já realizados no pré-sal. São fatores exclusivamente ligados à Petrobras e não dependem de aspectos como preço do petróleo e desempenho da economia brasileira ou mundial. Obviamente, quem compra ações da Petrobras quer que a companhia amplie seu faturamento, sua geração de caixa e seu lucro líquido a cada ano, o que contribuirá para aumentar o valor de suas ações. O acionista obviamente deve torcer para o preço do petróleo subir no mercado internacional, pois se esse é o produto que a Petrobras vende, nada melhor que o mesmo seja valorizado. Deve torcer também para que a economia brasileira volte a crescer e o consumo de combustíveis aumente, seja em automóveis, caminhões, diesel de aviação, asfalto, e no consumo de plásticos. Importante que a atual diretoria sinalizou que focará no corte custos e despesas, além do uso maior de ferramentas computacionais na exploração de petróleo, tornando a Petrobras mais leve e assertiva. Mas e quais os riscos de se investir na Petrobras? Estão associados à má gestão da companhia. Aspectos fundamentais não podem ocorrer, como impossibilidar que a Petrobras pratique preços alinhados com o mercado internacional. Na exploração de petróleo, a Petrobras tem quase todos seus custos variáveis, como aluguel de equipamentos e máquinas, ligados à variação do petróleo no mercado internacional. Se o petróleo aumenta, estes custos sobem . Se ela tiver custos maiores, mas não puder vender seus produtos por preços maiores no Brasil por uma interferência do governo, isso provocará grandes prejuízos na companhia. Fazê-la operar com lucros menores que suas pares internacionais por conta de preços controlados também reduzirá seus resultados e geração de caixa, diminuindo sua capacidade de investimento e por consequência sua capacidade de continuar explorando novas reservas e garantindo que sua produção continue crescendo, potencialmente afetando sua capacidade de pagar dívias financeiras com credores e afetando a capacidade de pagar dividendos para seus acionistas. Entre eles, o maior, que é o Governo Federal. Há ainda o risco de má alocação de capital, caso a empresa volte a anunciar investimentos arriscados e com retornos duvidosos, como construção de refinarias e exploração de petróleo em regiões arriscadas. Ou ainda, gastar muito mais que suas pares em investimentos por conta de corrupção, destruindo valor."
Sócio da Monte Bravo Investimentos, Bruno Madruga:
"Sem dúvida, o preço ficou mais atrativo. Sempre digo que crise é sinônimo de oportunidade. Se o investidor estava esperando o preço da ação recuar para adicionar ao seu portfólio, pode ser um bom momento. Lembrando que nenhum preço de ação cai na bolsa de valores se não houver alguma 'crise' momentânea. Sobre a Petrobras, não podemos esquecer que é uma estatal e intervenções irão existir. Porém, acertos ocorrerão. Privatização de braços da empresa, cessão onerosa, venda de ativos e um CEO competente formam um conjunto de fatores positivos e o investidor que tiver paciência deve aproveitar a oportunidade. Não basta olhar a foto de hoje. Temos que olhar o filme todo."
Diretor da Mirae Asset, Pablo Spyer:
"Vou na linha otimista. Não há sinais sólidos de que teremos uma gestão intervencionista, o que cai mal aos olhos dos investidores. Ao que tudo indica pelas reações e comentários da equipe do governo, o ocorrido pode ter sido um desencontro corporativo casual com uma reação pontual. Ou seja, um fato isolado. Devemos aguardar mais informações e novos desdobramentos para ter clareza. O investidor deve estar alerta que uma greve dos caminhoneiros ou outro fator exógeno, como solavancos no câmbio ou queda no preço do petróleo, interferem diretamente de forma negativa no preço da ação. Uma greve dos caminhoneiros atrasaria a reforma da Previdência, diminuiria todas as previsões de PIB e tem potencial até de cutucar a inflação que está controlada, já que os preços tendem a subir com a suspenção de entregas de alimentos e produtos. Estamos em um momento de transição importante e turbulento."