Os militares estavam contrariados com o resultado das eleições. Os militares desconfiavam do resultado das urnas. Os militares não gostavam do sujeito que seria o próximo presidente. Os militares não aceitavam a presença de civis no governo – pelo menos não em certas áreas. Então, os militares decidiram fazer o quê? Ora, o que já tinham feito antes: dar um golpe, impedir a posse do presidente eleito e alçar um marechal ao poder.
A indignação começara com a publicação de uma carta na qual o presidente eleito chamava os generais de “anarquizadores” e um ex-presidente fardado de “capitão sem compostura” – ops, perdão – de “sargentão sem compostura”. Aí, os quartéis se ergueram e, em meio à turbulência, o governo mandou prender o ex-presidente e fechar o Clube Militar – sim, o clube onde Deodoro e Benjamin Constant tanto haviam conspirado para derrubar o Império no golpe que passou à história com o nome de Proclamação da República. E o mais afrontoso: o clube foi fechado com base em lei feita contra “agremiações nocivas à sociedade”.
Os militares, então, decidem ir à luta. A senha para a “procissão sair” será o disparo dos canhões do Forte de Copacabana, que há de ser respondido pelas bombardas de outros quartéis. Só que na madrugada de 5 de julho de 1922, um único tiro ecoa solitário pela baía. Aí, a maior parte dos rebeldes decide se render. Apenas 18 saem de peito aberto, marchando pela Avenida Atlântica, no Rio. Quatro mil soldados leais à Constituição dão ordens para que parem. Quando os amotinados avançam, soa uma saraiva de tiros – e apenas dois insurretos sobrevivem para contar a história do quixotesco golpe chamado de Os 18 do Forte.
Foi há exatos cem anos, completados na última terça-feira. Dessa vez, ninguém falou nada – nem os militares no poder. Mas por anos a épica e desastrada revolta dos 18 de Copacabana teve profundos reflexos no Brasil – esteve por trás até da dita Revolução de 1930, outro golpe desferido contra as urnas, pois ao perder a eleição para Júlio Prestes, Getúlio Vargas partiu a galope para derrubar o regime à mão armada.
Ocorre que o golpe frustrado de 1922 não deveria ser esquecido. Primeiro, porque a carta na qual o presidente eleito Artur Bernardes chamava o ex-presidente marechal Hermes da Fonseca de “sargentão sem compostura” era falsa: uma fake news publicada pela imprensa golpista que mergulharia o Brasil em quatro anos de estado de sítio. Segundo, porque inspirados pelo que havia acontecido em 15 de novembro de 1889 existiam – e quiçá sigam existindo – militares que se julgavam capazes de “purgar” a nação de seus males, livrando-a das mãos dos civis, corrigindo os rumos do Brasil com a instauração de uma ditadura militar.
Bom, mas isso foi há um século – e jamais acontecerá de novo. Né?