
Nunca mais teremos um papa tão hincha como Francisco. Ou apenas Jorge, como seus amigos nos cafés e bancas de revista na Plaza de Mayo o chamavam.
Ele deixava o quarto sem conforto que se recusou a deixar quando virou cardeal, na Cúria de Buenos Aires, para tomar café e ler jornal.
Papo vai, papo vem, tudo terminava na rodada do fim de semana. "Não deram um pênalti para nós", dizia ele, torcedor militante do San Lorenzo, lá pelas tantas.
Eu estava na capital argentina quando Jorge foi ungido o primeiro pontífice latino-americano. Vinha da Venezuela, onde o Grêmio enfrentara o Caracas, pela Libertadores.
O voo, das Aerolineas Argentinas, facilitou o desvio de rota para Buenos Aires. Minha missão como repórter era descobrir e contar histórias sobre o novo Papa. O ano era 2013.
Um homem do povo
Nas cercanias da Cúria Metropolitana, muitos tinham contato com ele, que não ficava encarcerado em seu palácio católico. Quem me contou a história do pênalti foi o dono de uma banca de revistas.
Convidado a ser dindo do primogênito pelo amigo de medialunas e cafés, Jorge topou na hora. Foram de ônibus batizar o guri. Um barbeiro, parceiro de peladas em Flores, disse-me que até vidraça ele quebrou com chutão.
O mundo perdeu um homem bom, acolhedor, do povo. O futebol perdeu um cabo eleitoral de como ele deveria ser: menos vale-tudo e mais justo.