
Pelo que percebo, a consciência de que o futebol brasileiro tem de parar está tomando forma. Assim, permitam-se retomar o tema da coluna de segunda-feira (6), com novos dados. Sim, o Brasileirão tem de ser suspenso. E a Copa do Brasil. E todas as séries, mesmo a B, que não tem gaúchos na disputa. O futebol precisa parar. Não há um só argumento que pare em pé na defesa do "show tem de continuar".
Só a CBF não entendeu isso ainda. A comunidade do futebol começar a perceber. O presidente do Atlético-MG, Sérgio Coelho, já defendeu a pausa. Giuliano, que jogou em Inter e Grêmio, também. Cronistas conhecidos, como o Maurício Noriega, hoje na CNN, entraram na campanha. Entrei no Redação Sportv de casa, porque o prédio de GZH foi evacuado. O apresentador, Marcelo Barreto, olhando as cenas de Porto Alegre, disse:
— Está na hora de discutir a paralisação.
A ficha está caindo. O Brasil inteiro está mobilizado. Não é uma questão regional. É uma catástrofe brasileira. Cerca de 80% de Porto Alegre não tem água. São 500 mil imóveis, em todo o RS, sem luz. Há cidades inteiras submersas. Corpos boiando. As inundações vão demorar a ceder. Não temos nenhuma condição de pensar agora em tabela, escalação, gol.
Vamos lá: dá-se um jeito de embarcar Grêmio, Inter e Juventude numa operação de guerra para outro Estado quando o Salgado Filho permitir, mesmo sem sequer treinar e com jogadores nas ruas, trabalhando como voluntários. Palmeiras, Flamengo e São Paulo acenaram com uma ideia desalmada, colocando seus CTs à disposição.
Assim, o campeonato prosseguiria. Moleza, certo? Gente, não é só logística, mas empatia. Desespero. Dor. Medo. A cabeça de jogadores, funcionários e torcedores está afetada. Muitos têm parentes desaparecidos ou que perderam tudo.
Por fim, uma questão ética. Se todos seguirem jogando, menos os gaúchos, como será lá adiante? Grêmio, Inter e Juventude terão de jogar dia e noite, freneticamente, para recuperar asteriscos e cumprir o calendário? Os outros aceitarão somar pontos diante de adversários nessa situação patética? É esse o esporte que sonhamos, o do salve-se quem puder? Parem agora. Recuperem jogos nas datas Fifa, proibindo a convocação de estrangeiros que atuam no Brasil. Dá para resolver.
OBRIGADO, NEYMAR
Demorou, mas Neymar embarcou dois aviões com água, comida e roupas para o RS, em vez de só postar mensagens distantes e nem divulgar caminhos para doação. Foi cobrado. Pois essa demora não importa mais. De repente, ele não percebeu imediatamente do que se tratava, lá na Arábia. O que importa agora é que Neymar se engajou. E que pode ser decisivo se mobilizar seus milhões de fãs no mundo todo.