O futebol gaúcho voltou através de um Gre-Nal. Tinha de ser assim, com solenidade, pela grandeza da rivalidade. Nunca antes, em mais de 100 anos de história, tivemos um clássico em meio a uma trágica pandemia, sem torcida e fora de Porto Alegre, com toda a responsabilidade trazida pelos protocolos de segurança sanitária.
Todo o Gre-Nal, sem exceção, indica caminhos para o futuro e possíveis escalações diferentes das que vinham acontecendo. Novos titulares, inclusive. Sim, o Gre-Nal escala. Não seria de outra maneira em relação ao clássico da covid-19, apesar dos descontos a seguir. Em termos de tabela, não valia nada. O Inter, mesmo perdendo, será o campeão do seu grupo. A distância para os demais, inclusive em pontos, é grande. O Grêmio, com a derrota do Caxias para o Juventude no Ca-Ju, disparou na sua chave.
Vai dar a lógica. Novo Gre-Nal, só na decisão do returno, para ver quem disputa o título com o Caxias, campeão do primeiro turno. Melhor campanha, talvez? Com a vitória, o Grêmio foi a 21 pontos, deixando o Inter com 20. Mas isso vale só para definir mando de campo nas finais. Como o prefeito Nelson Marchezan vetou jogos em Porto Alegre, um eventual clássico para encerrar o Gauchão terá de ser em outro lugar. E, mesmo se for em POA, não haverá torcida. O fator local já era.
Mas qualquer Gre-Nal, de qualquer espécie, mesmo não valendo nada e cheio de erros de passe após quatro meses de recesso, abre horizontes. Quem sabe aproveitar a grandeza do clássico merece respeito. No Grêmio, Darlan. Ele passa a disputar posição ao lado de Matheus Henrique. Como Maicon não terá de condições sempre, que se estabeleça um rodízio em nível de titularidade, por assim dizer.
Darlan entrou no intervalo e fez florescer um Matheus Henrique mais armador, destravando o meio-campo de Renato. Jean Pyerre cresceu de produção. Darlan foi a peça-chave na vitória gremista por 1 a 0. Não vejo absurdo nele tomar o lugar de Lucas Silva como ficha 1 para quando Maicon não puder. Ou até quando Maicon puder. Na lateral-esquerda, se Guilherme Guedes repetir mais duas ou três rodadas nesse nível, Cortez seguirá no banco.
No Inter, olho em Bruno Praxedes. Ele entrou com personalidade. O time todo foi mal no segundo tempo, mas claramente é um meia de criação com chegada à frente. Anote aí: assim como Jean Pyerre, ele é ótimo batedor de faltas. Se deixarem, tomará conta das bolas paradas do Inter.
Outra questão, essa urgente. Um problema visível mesmo nas boas atuações coloradas, na Libertadores: as laterais. Deve-se dar tempo ao argentino Saravia. Se estava no Porto e disputou a Copa América pela Argentina, não pode ser tão precário como pareceu. Mas seu reserva (Rodinei) e os do outro lado (Moisés e Uendel) não correspondem. É muita transpiração e pouca inspiração.
O modelo de jogo de Coudet exige laterais fortes, para ir e vir o tempo todo, mas tem de saber o que fazer com a bola. Não pode rifar quando o espaço aparece pelo lado, e esse cenário se desenhou no primeiro tempo, em Caxias do Sul. Por que não olhar com mais carinho a base? O lateral-direito Vinícius Tobias tem 17 anos incompletos, eu sei. Mas, se é campeão com as seleções de base da seleção e já cobiçado por clubes europeus, não é de ganhar minutagem no Gauchão?
Pode ser em uma partida com o resultado decidido, só uns 15 minutos, já preparando-o para o futuro. Eu não desistiria tão cedo de Heitor, 19 anos. Também é preciso levar um papo sério com Musto. No Gre-Nal passado, ele comprometeu fazendo falta infantil e sendo expulso.
Neste, repetiu faltas na cara do árbitro, uma delas resultando em pênalti perdido por Everton. Salvou-se de ser expulso. Um defensor tem de desarmar cometendo faltas eventualmente, tudo bem, mas não sempre.
Como se vê, nenhum Gre-Nal é mais do mesmo. De todos dá para extrair gotas de futuro.