Nesta semana tomei a terceira dose, ou o reforço, como também podemos chamar. Seis meses depois de receber a segunda dose de Coronavac, uma vacina atenuada, o reforço foi feito com a vacina da Pfizer, de mRNA (RNA mensageiro). Me emocionei, em múltiplos níveis, com a experiência.
Primeiro, um sentimento de orgulho de ver o ponto de vacinação cheio de gente, de ver os estagiários e funcionários dos postos de saúde trabalhando num feriadão, buscando juntos a resolução da maior crise de saúde pública da História. Orgulho de que toda a propaganda negacionista somada à desastrosa atuação do atual governo em relação à vacinação não conseguiu eliminar a cultura criada pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI) – que, por sinal, continua sem coordenador há meses. Orgulho de ver gente de todas as idades se respeitando, se apoiando, apostando num futuro melhor. Esse é o Brasil que eu conheço e sempre conheci. É uma gente trabalhadora que quer, sim, liderança positiva, saúde pública, educação para todos – isso enquanto o atual Ministro da Educação trabalha tenazmente para degringolar seu ministério.
A pandemia chegou em um momento em que deixamos uma liderança destrutiva se apossar das coisas boas que o Brasil tem. Mas o que eu senti, no Terminal da Azenha no domingo passado, foi uma esperança. De que pode, e vai, melhorar.
Foi também profundamente emocionante receber uma dose da nova geração de vacinas. Antes da pandemia, imunização com mRNA era uma promessa tecnológica, já em estudos clínicos, para pacientes oncológicos. O desempenho dessas vacinas contra a covid-19 superou todas as expectativas e trouxe uma mudança histórica de paradigma para a imunização e a saúde pública. Eu estava esperando algum dos efeitos colaterais descritos, dor intensa, febre, indisposição. Fiquei até um pouco decepcionada porque só tive uma dorzinha no local.
Mas o dia seguinte já me animou: claramente os linfonodos daquela axila estavam aumentados. Ao sentir isso, pensei em outro estudo histórico em que um colega da Washington University, de St. Louis, que acompanhou, em pessoas imunizadas com essa vacina, a geração da resposta imune em tempo real. O processo que chamamos de reação do centro germinal, nome chique para o trabalho das células imunes que se mobilizam nos gânglios que recebem a linfa do local de aplicação vacinal. Ali produzem os anticorpos e, se temos sorte, a memória.
Nos EUA, metade da população recusa a vacinação. Mas os voluntários do estudo tiveram amostras aspiradas por uma fina agulha de seus linfonodos drenantes, semanalmente, possibilitando determinar a duração da resposta e seus detalhes. Hoje sabemos exatamente o que acontece ali, como manejar racionalmente reforços e intervalos das doses, e isso é inédito. Esperemos que as contradições reveladas na pandemia deixem algum saldo positivo. E que cada vez mais as pessoas se interessem em conhecer o processo da ciência e usem a dúvida como um mecanismo de progresso, e não de paralisia.