O ano de 2020 solidificou algo que já era uma tendência, mas que a pandemia tornou irrefutável: a biotecnologia é o novo investimento imprescindível. Um país que não tem a biotecnologia como uma das suas cinco maiores prioridades de investimento tecnológico, a partir de agora, está condenado a um atraso provavelmente irreversível.
Globalmente, em 2020, foram mais de 73 empresas de biotec levantando mais de US$ 22 bilhões, e as ações das empresas de biotecnologia aumentaram 20%. Vacinas, testes diagnósticos, anticorpos monoclonais, novas terapias para doenças previamente incuráveis, biossensores que conectam humanos a seus computadores pessoais, insumos biotecnológicos que servem desde ao melhoramento de colheitas até o prolongamento da vida de humanos – estes são hoje os principais mercados de investimento. A pandemia apenas acelerou o início do futuro: o mundo não sobrevive mais sem biotecnologia.
Ao contrário do que se imagina, as empresas que receberam esse capital (de risco) não foram as grandes farmacêuticas, e sim empresas novas. Metade delas está hoje nos EUA, e 10%, na Europa. Um terço das IPO (initial public offering, ou quando uma empresa coloca suas ações para venda no mercado) de biotec veio, em 2020, de empresas na Ásia – e a grande maioria delas está na China.
As empresas de lá vêm se esforçando para cumprir os requerimentos de segurança e eficácia da FDA, a agência regulatória americana – e que é referência para as agências regulatórias mundiais. Em retorno, a FDA tem cada vez mais aceito dados de ensaios clínicos realizados na China.
O primeiro medicamento oncológico desenvolvido na China, o zanubrutinib, um inibidor da BTK semelhante ao imatinib usado em linfomas, foi aprovado nos EUA em 2019. Em 2021, duas empresas chinesas – uma de terapias celulares – estiveram nos 10 principais IPOs da Nasdaq. Isso tudo é resultado do investimento contínuo dos governos chineses em inovação.
A revolução imunológica na terapia do câncer foi encampada como emergência nacional, e alternativas chinesas para anticorpos anti-PD-1 e anti- PD-L1, líderes nas terapias oncológicas, estão sendo desenvolvidos na China. Após abastecer o mercado interno, essas alternativas miram o mercado global.
Um grande porém: a maioria dos produtos dessas empresas foca em reproduzir tecnologias a partir de descobertas realizadas nos EUA. Muitas dessas empresas foram desenvolvidas como parceiros de megaempresas ocidentais, como a Lilly, produtora hoje de monoclonais para a covid-19, entre outras coisas. Isso se deve ao baixo investimento em pesquisa básica, de onde se originam as inovações.
O que dizer de América Latina e Brasil, ausentes desses mercados? Precisamos decidir, para ontem, se ficaremos de fora do futuro. Hoje, é onde nos encontramos.