A aula de vacinas sempre foi a cereja do bolo da disciplina de Imunologia nos mais diversos cursos de Ciências Biomédicas. No final do semestre, depois de passar meses estudando os diferentes tipos de respostas imunes, vinha a evidência da importância daquilo que estudáramos. Como usar a imunidade mais importante em cada infecção que matava milhões para o desenho vacinal; a quantidade de vidas poupadas. Quem imaginava que teríamos essa aula em tempo real? Ou que poderíamos analisar ao vivo diferenças de potência e proteção em vacinas para um mesmo patógeno?
Contei aqui que a eficácia mínima para vacinas contra a covid-19 estipulada em 2020 pela WHO foi de 50%, porque assim conseguiríamos conter a circulação viral quando conseguíssemos imunizar 70% da população. Mas ninguém previu, na época, que surgiriam tecnologias vacinais novas, com eficácia acima de 90%, caso das vacinas de mRNA. Para quem não sabe, vacinas conhecidas, como a do sarampo e a da pólio, tem efetividades da ordem de 90%. Ambas são de vírus inteiros inativados. Poucos sabem que elas não previnem a infecção: os vírus do sarampo e da poliomielite continuam circulando na população – os vacinados, portanto, se infectam, apenas não ficam doentes. Há surtos quando populações deixavam de se vacinar.
Até a semana passada, não sabíamos se as vacinas para covid-19 poderiam evitar a infecção nos vacinados. Um estudo do CDC abordou isso, analisando quase 4 mil pessoas imunizadas com vacinas da Pfizer ou da Moderna em oito locais dos Estados Unidos. Essas pessoas coletaram o famoso suabe nasal, semanalmente, por 17 semanas consecutivas (!), e era feita a pesquisa de material genético do SARS-CoV-2 por PCR. Se o resultado era positivo, eles mediam a carga viral e por quanto tempo a pessoa espalhava o vírus, monitorando-a para os sintomas da covid-19. Os resultados mostraram que as vacinas reduziram em 91% a chance de as pessoas se infectarem. Nas que se infectaram, os sintomas foram leves ou inexistentes; havia 40% menos vírus no nariz; e diminuiu em seis dias o tempo de espalhamento do vírus.
Esses resultados são surpreendentes e históricos: com esse tipo de tecnologia, é possível pensar em erradicar uma doença. Os resultados explicam ainda como a vacinação de adultos diminui casos de o covid-19 entre as crianças ainda não vacinadas, como reportado em diferentes estudos. Detalhe: para isso, todos precisam se vacinar, com as duas doses. Perguntas?