Em 1882, na abertura de seus Papéis Avulsos, dirigindo-se ao leitor, como de costume, Machado de Assis encerra assim sua apresentação: “Deste modo, venha donde vier o reproche, espero que daí mesmo virá a absolvição”. Ah, não deu outra: na edição seguinte, ele se sente na obrigação de acrescentar uma nota ao final, onde informa, com sua habitual elegância: “Cerca de dois anos para cá, recebi duas cartas anônimas, escritas por pessoa inteligente e simpática, em que me foi notado o uso do vocábulo reproche. Não sabendo como responda ao meu estimável correspondente, aproveito esta ocasião. Reproche não é galicismo” – e segue a explicação, citando autores clássicos e respeitáveis. Duas cartas em dois anos! E de um correspondente educado! Que inveja! Penso no frenético Facebook e imagino hoje o pobre Machado enfrentando aquela lista interminável de opiniões tiradas do oco do umbigo (para não citar outro oco mais ao sul) e de bordões como “Fora Temer” e “Lula na prisão”...
O Prazer das Palavras
Podemos viver sem as palavras de origem francesa?
Imagine que nosso léxico fosse atingido por um raio desgalicizador. Um dia, ao acordar de manhã, você não poderia mais falar em abajur, avalanche, batom, bege