O amor de Romeu e Julieta não comove apenas porque é trágico, mas porque é precoce. O jovem casal de Verona – ela com 14 anos incompletos – se apaixona quando tudo conspira a favor da paixão: o corpo, a alma e a falta de termos de comparação. Morrer de amor, na adolescência, não é apenas uma figura de linguagem. Morre-se um pouco, sempre, quando o primeiro amor não dá certo – e é isso que nos comove na história dos dois amantes que preferem a morte à ideia da separação. Amores da adolescência costumam ser ainda mais passageiros do que a própria juventude, mas a nostalgia de acreditar em algo que dura para sempre pode ser eterna.
Muito mais raras, na vida como na ficção, são as histórias de romances da maturidade, época em que tudo parece conspirar contra o amor: o corpo, a alma e o excesso de termos de comparação. O escritor americano Kent Haruf (1943 – 2014) imaginou como seria uma história de amor entre um Romeu e uma Julieta que se apaixonassem depois dos 70 anos. O resultado é o livro Nossas Noites (Companhia das Letras), que acaba de sair no Brasil e foi publicado postumamente.
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Na história, os viúvos Addie e Louis vivem a poucos metros um do outro, em uma pequena cidade do interior. Os dois têm filhos adultos longe e moram sozinhos. Um dia, Addie propõe ao vizinho um arranjo inusitado: os dois, que mal se conheciam, deveriam fazer companhia um ao outro à noite, na cama, quando a solidão pesa mais. O que acontece a partir de então é melhor não contar para não estragar muito a surpresa, mas posso garantir que Nossas Noites é o livro mais genuinamente romântico que eu li nos últimos tempos.
Não apenas pelo encontro de duas almas que vibram em sintonia (o título original é algo como "nossas almas à noite"), matriz de todas as grandes histórias românticas, mas pela potência de um sentimento capaz de contrariar convenções, filhos, medos e manias.
Nossas Noites é também uma espécie de testamento amoroso. O autor começou a escrever o livro quando já sabia que estava próximo da morte. Ele e a mulher se conheceram nos tempos de escola, casaram-se com outras pessoas, tiveram filhos e nunca mais se viram. Até um reencontro na festa de 30 anos de formatura do colégio. Um dos personagens do romance que o tornou famoso, Plainsong (1999), é inspirado nela – assim como a última história de amor que ele escreveu.